Agência Panafricana de Notícias

África do Sul celebra 50º aniversário do massacre de Sharpeville

Cidade de Cabo- África do Sul (PANA) -- Milhões de Sul-africanos celebraram, domingo, o 50º aniversário do massacre de Sharpeville, um evento que marcou a luta que conduziu ao fim do regime de apartheid, na África do Sul.
Pelo menos 69 pessoas morreram, a 21 de Março de 1960, quando a Polícia disparou contra uma multidão que se manifestava contra as leis segregacionistas então em vigor no país.
Em memória das vítimas deste massacre, foi organizada uma cerimónia de deposição de flores, seguida de um discurso do Vice-Presidente Kgalema Motlanthe.
Durante um jogo que opôs o Kaizer Chiefs e o Santos na Cidade do Cabo, no quadro do torneio da Telcom, os futebolistas marcaram o evento por um minuto de silêncio antes do arranque.
O massacre de Sharpeville conduziu à suspensão das actividades do Congresso Nacional Africano (ANC) e do Movimento de Libertação Rival, o Congresso Panafricano (PAC).
"Homenageamos estes homens, mulheres e crianças.
Eles consentiram o sacrifício último pela liberdade, pela igualdade e pela dignidade.
Eles não serão esquecidos", disse o porta-voz da Aliança Democrática (AD, oposição), Melany Kuhn.
"Há 16 anos, começamos a transição do regime autoritário do apartheid para uma democracia constitucional baseada no Direito.
A partir do momento em que a nossa Constituição foi adoptada, o nosso papel é defender e promover os direitos e as liberdades nela consagrados", sublinhou.
Para Kuhn, tal é o dever de qualquer Sul-Africano pois, prosseguiu, numa altura em que se celebra o Dia dos Direitos Humanos, "devemos reflectir sobre as verdadeiras ameaças aos Direitos Humanos e opormo-nos".
O partido ANC, no poder, indicou que as vítimas não perderam as suas vidas gratuitamente.
Num comunicado paralelo, a Fundação Nelson Mandela considerou a efeméride como sendo igualmente "uma jornada para reflectir sobre os progressos feitos na garantia dos direitos fundamentais a todos os Sul-Africanos como estipulado na Constituição".
Sharpeville é um bairro negro construído pelo Governo sul-africano da época do apartheid.
Fica localizado nos arredores da cidade de Joanesburgo, no sul da província de Gauteng, África do Sul, entre as duas cidades industriais de Vanderbijlpark e Vereeniging.
Em 21 de Março de 1960, ocorreu nesse bairro o chamado Massacre de Sharpeville, quando a Polícia abriu fogo contra civis negros que protestavam contra a chamada Lei do Passe que eles consideravam discriminatória.
Esta lei obrigava os negros da África do Sul a usarem uma caderneta onde estavam inscritas as áreas a que tinham acesso uma vez que lhes era vedado o acesso a determinados locais.
O protesto organizado pelo PAC reuniu cerca de cinco mil pessoas que marchavam calma e pacificamente antes de a Polícia sul-africana dispersar a manifestação com rajadas de metralhadora que fizeram os 69 mortos e cerca de 180 feridos.
Após esse dia, a opinião pública mundial concentrou a sua atenção, pela primeira vez, na questão do apartheid e, em 21 de Novembro de 1969, as Nações Unidas decretaram o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, que passou a ser comemorado a partir do ano seguinte.