Agência Panafricana de Notícias

Viúvas de militares senegaleses apresentam queixa no TPI

Dakar- Senegal (PANA) -- As viúvas de 93 soldados senegaleses mortos na Árabia Saudita apresentaram queixa contra o Presidente senegalês, Abdoulaye Wade, o seu predecessor Abdou Diouf e o ex-primeiro- ministro Habib Thiam, no Tribunal Penal Internacional (TPI), por "crime contra a humanidade e crime de guerra", revelou sexta-feira à PANA o seu advogado, Omar Ngalla Ndiaye.
"Depositei a queixa a 5 de Novembro último em Haia (Holanda) no TPI e enviei cartas de interpelação formal ao Presidente da República (Abdoulaye Wade) bem como ao Presidente da época (Abdou Diouf) e ao seu primeiro-ministro (Habib Thiam)", afirmou.
Estes soldados faziam parte do contingente senegalês enviado à Árabia Saudita, em Setembro de 1990, no quadro da coligação internacional contra o Iraque que invadiu o Koweit.
Eles foram mortos a 21 de Março de 1991 no despenhamento dum avião militar, um C-130 que os conduzia de Jeddah à sua base, em Safania, no norte da Árabia Saudita, perto das fronteiras deste reino com o Iraque e o Koweit.
"Eles íam à Meca como peregrinos.
A guerra já tinha acabado.
O avião despenhou-se a 20 metros da pista de aterragem", precisou à PANA o ex-militar senegalês El hadji Abdou Niang, um dos sobreviventes da guerra, lembrando que apenas três pessoas sobreviveram este acidente.
Segundo a versão oficial, o piloto perdeu o controlo do aparelho devido à bruma, ao passo que algumas fontes militares defendem que o avião foi abatido por um míssil SAM 6.
"Antes de deixar Jeddah, o plano de voo do avião foi modificado duas vezes.
Ele efectuou um voo nocturno quando, por razões de segurança, os aviões não deviam voar à noite.
Além disso, a pista de aterragem foi quadriculada de mísseis SAM 6", declarou um militar senegalês que falava sob o anonimato.
"Dada a trajectória do avião, que utilizou a parte dianteira ao cair e a maneira como ele explodiu, não é excluído que tivesse sido atingido por um míssil.
Só Deus sabe", acrescentou.
As viúvas e os antigos combatentes do Golfo acusam o Estado do Senegal de desvio de 90 biliões 500 milhões de francos CFA que lhes eram destinados.
"A Árabia Saudita e o Koweit deram ao contingente senegalês 91 biliões de francos CFA, mas o Estado entregou-lhes apenas 500 milhões de francos.
É preciso que o Estado nos diga onde passou o resto do dinheiro", declarou à PANA o advogado dos queixosos, Omar Ngalla NDiaye.
"Contactei o agente judicial do Estado que diz ter encontrado apenas 500 milhões de francos CFA.
É claro que houve desvio de fundos privados", acrescentou.
Segundo El hadji Abdou Niang, a Árabia Saudita prometeu oferecer a cada militar senegalês a soma de um milhão de riyal (a moeda local), o que equivalia na época a 72 milhões de francos CFA.
"Começámos todos a sonhar, mas finalmente ficamos decepcionados pois as autoridades senegalesas deram a cada um de nós apenas um milhão de francos CFA", afirmou.
"O nosso país enviou os seus soldados para a Árabia Saudita para se enriquecer em detrimento destes.
É inadmissível", prosseguiu.
Niang faz parte dos oito soldados senegaleses feridos por um míssil FROG lançado pelo Iraque, a 21 de Fevereiro de 1991, segundo dia da ofensiva terrestre lançada pela coligação internacional.
"Fui o mais afectado e o meu caso foi desesperador.
Foi no 16º dia do ataque que comecei a sair do coma.
Efectuei seis operações cirúrgicas na Árabia Saudita", disse, convidando a Árabia Saudita e o Koweit a interpelar o Estado do Senegal sobre a utilização dos fundos destinados aos soldados.