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UE financia projeto de proteção de património subaquático de Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) - A União Europeia (UE) concederá a Cabo Verde 110.000 euros para implementar um projeto, designado Margullar2, que tem como propósitos realizar intervenções para a melhoria dos museus relacionados com a temática do mar, apurou a PANA de fonte segura.

Na apresentação do projeto, a diretora dos Museus de Cabo Verde, Samira Baessa, explicou que se está a falar do Museu do Mar em São Vicente, do Museu da Arqueologia na Praia e do Núcleo da Arqueologia que será criado na ilha da Boa Vista.

Segundo ela, o empreendimento tem a vantagem de trazer a possibilidade de se poder trabalhar também na reabilitação das estruturas.

O projeto Margullar2 será finalizado em outubro de 2023, e envolve, além de Cabo Verde, o Senegal.

A diretora dos Museus de Cabo Verde disse que a obra chega a Cabo Verde num período em que há um novo olhar e visão em relação à potencialização do mar e dos seus recursos.

"Cabo Verde aderiu, em 2008, à Convenção do Património Cultural Subaquático da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), o que reforça o compromisso e engajamento do Estado em relação a esta questão específica", salientou.

A convenção, prosseguiu, conhece a importância do património cultural subaquático como uma parte integrante do património cultural da humanidade, particularmente com a história dos povos, das nações e suas relações mútuas em relação ao património que é comum.

A legislação cabo-verdiana já apresenta algumas indicações em relação à necessidade de se preservar e proteger o património cultural subaquático, segundo a resoknsável.

"Este mesmo regime jurídico também propõe uma certa articulação e compatibiliza o património cultural com as restantes políticas que se dirigem a idênticos ou conexos interesses, a possibilidade de Cabo Verde estabelecer parcerias com outras instituições ou regiões que tenham esta preocupação comum", enfatizou Samira Baessa.

O projeto será desenvolvido em três grandes eixos, nomeadamente a reativação dos centros de arqueologia marítima para a valorização do património histórico subaquático, a proteção e preservação do património submerso, com a criação de redes de parques arqueológicos subaquáticos e a valorização deste património submerso da Macaronésia, de acordo com diretora.

O projeto Margullar foi desenvolvido em parceria com as ilhas da Macaronésia, designadamente Madeira e Açores (Portugal), Canárias  (Espanha) e Cabo Verde, com o fito de articular o património e turismo através da realização de trabalhos de arqueologia subaquática para a preservação e conservação do património marinho, para a sua posterior valorização e aproveitamento, com foco na melhoria da atratividade e promoção do turismo nestas regiões.

No caso de Cabo Verde, estão contabilizados mais de 150 naufrágios nas suas águas, a maioria perto da ilha da Boa Vista, onde será instalado um Núcleo de Arqueologia para receber boa parte do acervo arqueológico.

Segundo o presidente do Instituto do Património Cultural (IPC) de Cabo Verde, Jair Fernandes, a escolha de São Vicente para a apresentação do projeto Margullar2 não foi por acaso, pois, estão na ilha grande parte dos intervenientes que estiveram na Conferência dos Oceanos, em Lisboa (Portugal), bem como o Museu do Mar.

"Temos aqui todos os intervenientes ligados ao mar (organizações, pessoas da área), daí tentar ligar esta nova temática ao mar. Cabo Verde tem cerca de 150 naufrágios ocorridos aqui, e foi graças ao Margullar1 que permitiu identificar todos esses recursos", sublinhou.

O resultado do Margullar1 publicado no livro "Memória em Pedra" permitiu um olhar sobre o património subaquático e contar a história do país.

"Também foi no âmbito da implementação do pacote do Margullar1 que se criou a Comissão para a Salvaguarda do Património Subaquático de Cabo Verde que implica não só o IPC. Mas todas as instituições que têm a temática do mar. Em Cabo Verde, a maior parte do território é mar, e nós temos uma grande riqueza que tem a ver com os recursos marinhos, mas também os testemunhos que estão no fundo do mar a nível da arqueologia subaquática e que testemunham a importância que Cabo Verde teve na ligação entre os continentes, nas trocas comerciais a partir do século XV", frisou a diretora dos museus.

Em novembro de 2021, durante a apresentação do projeto para Cabo Verde, no I Congresso da Arqueologia Subaquática da Macaronésia, decorrido nas Canárias, o presidente do IPC disse que o país está a preparar a sua inclusão, nas rotas, do turismo do património subaquático e que, para isso, já formou técnicos e parceiros, sensibilizou comunidades e inventariou o património, segundo o responsável.

"Temos estado a desenvolver todo um trabalho de formação, de sensibilização, de catalogação e inventariação desses bens antes da sua promoção enquanto ativo turístico", disse Jair Fernandes, para quem a primeira ação vai ser a inclusão do país nas rotas do turismo, do património subaquático da Macaronésia, para depois ser a nível mundial.

-0- PANA CS/DD 07julho2022