Agência Panafricana de Notícias

Transportadora aérea cabo-verdiana suspende voos por 14 dias

Praia, Cabo Verde (PANA) - A administração da Cabo Verde Airlines (CVA) anunciou, domingo, suspender vendas e voos por 14 dias, face à intenção do Governo cabo-verdiano de renacionalizar a companhia e ao pedido de arresto do único avião ao serviço desta última.

Fonte oficial da companhia cabo-verdiana esclareceu que, contrariamente à informação anterior, a anunciada suspensão da atividade da CVA vai até 12 de julho próximo.

Um comunicado assinado pelo diretor-executivo da companhia, Erlendur Svavarsson, assinala que foi “com surpresa e apreensão" que a administração da CVA assiste, paralelamente, às ações do Estado de Cabo Verde, como acionista minoritário, que ameaça nacionalizar, à tentativa de apreensão de bens de terceiros que não têm dívidas com a companhia aérea ou com o Estado. 

"Nenhuma destas ações pode ser vista como benéfica para a companhia aérea, nem para seus passageiros ou funcionários", afirmou ainda, criticando o Governo que anunciou, sexta-feira última, 25 de junho, que o Conselho de Ministros tinha aprovado a reversão de 51 por cento das ações da CVA vendidas à islandesa Loftleidir em 2019, justificando que, em causa, está o "interesse público estratégico e a segurança nacional."

"Devo manifestar a minha deceção com a decisão do Governo de tentar prender a aeronave na ilha do Sal, o que impede a empresa de retomar as operações conforme planeado. Após 15 meses de preparação, período de suspensão de voos da CVA devido à pandemia de covid-19, de investimento numa nova plataforma de reservas, formação de pessoal e divulgação de horários e destinos, a empresa está pronta para voar. Mas somos impedidos de o fazer, totalmente com base na intervenção do Governo", indignou-se.

O anúncio da medida adotada pelo Governo, em conferência de imprensa, na cidade da Praia, pela ministra da Presidência do Conselho de Ministros, Filomena Gonçalves, que recordou que a privatização em 2019 foi "promissora", mas que, com a crise pandémica, o parceiro anunciou não estar em condições de assegurar a continuidade da companhia.

A seu ver, isto levou o Governo a encetar negociações em busca de uma nova solução.

Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51 por cento da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70%p por cento pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36 por cento da CVA) e em 30 por cento por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15 por cento da quota de 51 por cento privatizada).

A CVA, em que o Estado cabo-verdiano mantém uma posição de 39 por cento, concentrou então a atividade nos voos internacionais a partir do 'hub' ( plataforma) do Sal, deixando voos domésticos.

Devido aos efeitos da pandemia da covid-19, foi assinado um novo acordo entre o Estado e a Loftleidir já este ano, para a viabilização da empresa, que previa a cedência de ambas a partes em diferentes setores, mas o executivo concluiu que a outra parte não tem cumprido o acordo.

Assim sendo, o Governo decidiu da via da reversão parcial da privatização efetuada e que corresponde aos 51 por cento do capital vendido à Loftleidir", afirmou a porta-voz do Conselho de Ministros.

Considerou que era necessário intervir "com a máxima urgência" para assegurar a existência e a retoma normal das atividades de transporte aéreo internacional de passageiros e cargas da companhia aérea de bandeira.

Paralelamente, segundo a imprensa local, o Estado cabo-verdiano avançou com um pedido de arresto do Boeing 757-200 da Loftleidir alugado pela CVA, por alegadas dívidas da companhia.

"A apreensão da aeronave não só impede a operação como obrigou o proprietário da aeronave a exigir o cancelamento da matrícula da aeronave no registo cabo-verdiano. Esta aeronave alugada, que nunca foi propriedade da CVA, não estará, portanto, disponível para quaisquer voos futuros da companhia aérea, independentemente da futura titularidade das ações da companhia aérea", avisa Erlendur Svavarsson.

-0– PANA CS/DD 28junho2021