Agência Panafricana de Notícias

Transportadora aérea cabo-verdiana surpreendida com arresto de avião na Holanda

Praia, Cabo Verde (PANA) - O Conselho de Administração da Transportadora Aérea de Cabo Verde (TACV) declarou-se, segunda-feira, supreendido com o "inesperado e imprevisível" arresto, sábado, 27, no aeroporto de Amsterdão, nos Países Baixos, do seu Boeing 737-889 alegadamente por dívidas a fornecedores, apurou a PANA de fonte segura.

O avião foi apreendido na sequência da intervenção de um representante do Ministério Público neerlandês que ordenou a evacuação dos passageiros e da tripulação a bordo, selando depois o aparelho, indica um comunicado do Conselho de Administração da TACV, divulgado na cidade da Praia.

A imobilização do Boeing 737-889 aconteceu num momento em que a transportadora estava a “renegociar” a sua dívida com a empresa AERCAP.

A TACV considera que esta medida de mandar imobilizar o aparelho em Amsterdão “surge inesperadamente” face ao clima de negociação e à evolução dos factos, uma vez que, frisou, ela reduziu a dívida de 5,9 milhões de dólares, em 2013, para 1,5 milhões de dólares, atualmente em negociações.

“Entretanto é de reconhecer que a empresa proprietária (AERCAP) tem exigido a regulação total da dívida, mesmo após todos os esforços dos pagamentos efetuados e que, na presente data, é quatro vezes menos do que foi há três anos”, assinala a nota.

O Conselho de Administração da TACV anunciou, por outro lado, que está em curso um plano de reestruturação desta dívida que, devido à antiguidade e ao volume da mesma ,“obriga à execução de um programa de ação solidamente estruturado” que inclui nomeadamente a redução dos custos operacionais e o incremento de receitas, com especial atenção à recuperação e consolidação da empresa.

A TACV garante que a sua direção intensificará as negociações com o credor e que “está confiante que este constrangimento será ultrapassado”.

O arresto do aparelho que fazia a ligação Sal (Cabo Verde)/Amesterdão/Paris (França) levou os partidos da oposição em Cabo Verde a responsabilizaram o Governo por mais este episódio resultante dos problemas financeiros que a TACV vem enfrentando há já alguns anos.

O presidente do Movimento para a Democracia (MpD, principal partido da oposição), Ulisses Correia e Silva, considerou o sucedido "grave, mas previsível, tendo em conta a situação dos TACV".

A seu ver, o responsável direto desta problemática é o Governo que “foi colocar na presidência do Conselho de Administração, por motivos políticos e partidários, um membro da comissão política do PAICV (partido no poder), em detrimento da capacidade e da competência".

Por seu lado, o líder da União Cabo-verdiana e Democrática (UCID, oposição com dois assentos parlamentares), António Monteiro, considerou a situação "grave e vergonhosa".

"Quando as dívidas da companhia chegam ao ponto de se arrestar o avião, é uma situação grave e vergonhosa e gostaria de ver uma reação muito rápida do Governo que tem a responsabilidade direta pela situação para limpar a imagem de Cabo Verde", disse.

Porém, a presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, admitiu as dívidas, garantindo no entanto que o Governo está a trabalhar para que possam ser pagas e que a situação seja ultrapassada "o mais brevemente possível".

A TACV tem enfrentado vários problemas financeiros, com o cúmulo de dívidas, de cancelamentos e atrasos nos voos.

No final do ano de 2015, esteve suspensa da câmara de pagamentos da Associação Internacional dos Transportes Aéreos (IATA) e, em consequência, teve que passar a fazer todos os pagamentos a pronto ou antecipadamente, tendi sido readmitida nesta instituição em janeiro de 2016.

O Governo anunciou estar a reestruturar a companhia com vista à sua privatização apontada para abril próximo.

-0- PANA CS/DD 01março2016