Agência Panafricana de Notícias

RSF rejeita explicações do Governo sobre morte de jornalista nos Camarões

Paris, França (PANA) - A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) qualificou de "indecentes e inaceitáveis" as explicações do Ministério da Defesa dos Camarões sobre a morte do jornalista Samuel Wazizi, apresentador da cadeia Chillen Media Television (CMTV) que se encontrava detido.

A organização de defesa da liberdade de imprensa exigiu, por isso,  uma investigação "imparcial e independente".

Num comunicado de imprensa lido na Radiotelevisão dos Camarões (CRTV) , o Ministério da Defesa reconhece, 10 meses após os factos, a morte de Samuel Wazizi, que teria resultado "de uma sepsia grave" e não de "qualquer ato de tortura".

Segundo a nota, o jornalista morreu no Hospital Militar de Yaoundé, a 17 de agosto de 2019, quatro dias após a sua transferência para a capital política do país.

A RSF diz que as explicações dadas pelas autoridades dos Camarões "são indecentes e inaceitáveis", uma vez que a família do jornalista "nunca foi informada da sua morte". 

"A emoção do seu irmão contactado por telefone pela nossa organização era perceptível, quando soube que esta informação é agora oficial ", disse Arnaud Froger, chefe do bureau da RSF, em África.

Para a ONG, as circunstâncias da morte do apresentador da CMTV merecem uma investigação imparcial e independente, implicando uma autópsia, porque Wazizi "estava de boa saúde no momento da sua detenção".

"Tendo em conta as numerosas zonas de sombrias, as explicações tardias e muito pouco credíveis fornecidas até agora, apenas investigações adicionais e transparentes permitirão conhecer a verdade", acrescentou.

A RSF diz ter conseguido consultar várias fotos do jornalista tiradas, em Yaoundé, a 13 de agosto de 2019, nas quais apresenta numerosas lesões e inflamações a nível do pé, mão e ombro, "o que legitimamente nos permite suspeitar de atos de tortura infligidos em dias anteriores".

"Desde o início do caso, os advogados de Samuel Wazizi pediram também continuamente um acesso ao seu cliente e aos factos que lhe foram imputados, sem nunca receberem informações de que o jornalista faleceu", sublinha a organização.

O apresentador da cadeia regional Chillen Média Télévision foi preso, a 2 de agosto de 2019, por ter feito comentários críticos no seu canal sobre a gestão da crise anglófona, nos Camarões.

Desde então, nem os membros da família nem mesmo os seus advogados conseguiram entrar em contacto com o jornalista que foi detido em secretamente por soldados.

O canal privado Equinoxe TV revelou terça-feira a morte de Samuel Wazizi em detenção, citando "fontes próximas das Forças Armadas", antes de a notícia ser confirmada pelo presidente da União Nacional de Jornalistas dos Camarões e depois diretamente para a RSF por uma fonte militar muito próxima do dossiê.

O ministro da Comunicação e porta-voz do Governo, René Emmanuel Sadi,  bem como o chefe da comunicação do Ministério da Defesa não responderam às chamadas e mensagens da RSF, indicou a organização de defesa dos jornalistas.

-0- PANA BM/JSG/SOC/MAR/IZ 07junho2020