Agência Panafricana de Notícias

Presidente cabo-verdiano a favor de “trégua humanitária” em Gaza

Praia, Cabo Verde (PANA) – O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, disse, terça-feira, na cidade da Praia, estranhar a decisão do seu país de se abster de votar uma resolução aprovada sexta-feira última pela Assembleia Geral das Nações Unidas que pede uma “uma trégua humanitária imediata, duradoura e sustentada que conduza à cessação das hostilidades” em Gaza (Palestina), apurou a PANA de fonte oficial.

Cabo Verde foi o único dos países de língua portuguesa a abster-se na votação desta resolução apresentada pela Jordânia, em nome do grupo árabe, e aprovada com 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções, aludiu José Maria Neves.

“Cabo Verde é um país que defende a Carta das Nações Unidas, defende o direito internacional. O que estava em causa aqui era um cessar-fogo humanitário para abrir corredores de assistência humanitárias a civis, de modo que não entendi o posicionamento de Cabo Verde”, indignou-se em declarações à imprensa.

Para o mais alto magistrado da nação cabo-verdiana, “não se pode abster nestas condições, quando estão em causa direitos humanos, o cumprimento da carta das Nações Unidas.

Por conseguinte, apelou a que haja mais concertação interna, sem timidez na busca de consensos, entendimentos e concertação nestes momentos cruciais.

Cabo Verde é um país que defende a Carta das Nações Unidas e os direitos humanos, sendo assim respeitado pela sua seriedade e coerência, afirmou.

Razão pela qual, considerou que “claramente o país sai prejudicado com este posicionamento nas Nações Unidas.”

Por sua vez, o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (principal forca da oposição) divulgou um comunicado considerando que "a decisão do Governo cabo-verdiano é uma extraordinária manifestação de auto-isolamento diplomático, mormente tratando-se de um assunto de natureza humanitária, que tem a ver com a prestação de assistência vital a dois milhões de seres humanos encurralados e expostos de dia e de noite a bombardeamentos terrestres, marítimos e aéreos.”

Segundo o PAICV, a decisão do Governo liderado por Ulisses Correia e Silva de “voltar as costas” à esmagadora maioria dos países do mundo, que se propõem encontrar vias para amenizar o sofrimento, é "a  manifestação de uma revoltante ausência de sensibilidade para com o povo palestino."

Por outro lado, considerou manchado o prestígio internacional de Cabo Verde, pois, na óptica do maior partido da oposição, "constitui uma deriva grave na condução da sua política externa, num momento de extrema tensão na cena internacional e de reposicionamentos estratégicos das alianças político-diplomáticas."

Daí que tenha chamado a atenção para as consequências que acabarão por ser sentidas a curto ou médio prazos nas relações de Cabo Verde com muitos países.

“O bom senso e a nossa própria experiência de Estado independente aconselham a consolidar e não afugentar as nossas parcerias tradicionais nem criar razões para que o prestígio com que somos conhecidos e reconhecidos no mundo seja colocado em causa”, aconselhou o maior partido da oposição cabo-verdiano.

Realçou que a diplomacia de um pequeno país arquipelágico exige rigor e sentido de permanência.

Reiterou também a sua solidariedade ao povo da Palestina, reafirmando total adesão às “pertinentes resoluções" da Organização das Nações Unidas (ONU), e exprimindo a sua convicção de que "a solução para esse conflito passa pela futura e necessária criação de dois Estados soberanos e iguais em direitos que permitam aos palestinianos e israelitas viverem em paz."

O Governo de Cabo Verde justificou a sua abstenção pelo facto de a Assembelia Geral da ONU ter rejeitado a inclusão de uma emenda do Canadá, que pedia a condenação expressa do Hamas (grupo extremista palestinano) pelo ataque de 7 de outubro último contra Israel, que provocou a morte de mais de 1.400 israelitas, na sua maioria civis.

-0- PANA CS/DD 01novembro2023