Agência Panafricana de Notícias

Presidente cabo-verdiana alerta para ameaças do populismo à democracia

Praia, Cabo Verde (PANA) - O Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, alertou, segunda-feira, para ameaças que pairam sobre a democracia em diversas partes do mundo, nomeadamente a atual onda de populismo como a causa principal do fenómeno, apurou a PANA de fonte segura.

No seu último discurso enquanto chefe do Estado, na sessão comemorativa do 05 de julho corrente, Dia da Independência Nacional de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca salientou que "é preciso não perder de vista que o sistema democrático, enquanto melhor sistema que serve o país, precisa ser aperfeiçoado para não ficar vulnerável a essas ameaças."

“A este aspeto deve-se conceder uma importância muito particular, pois parece ser a expressão da consciência de natureza inacabada do processo democrático, num contexto em que ameaças muito concretas pairam sobre a democracia em diversas partes do mundo”, realçou.

Para o Presidente cabo-verdiano, muito provavelmente a atual onda de populismo, que, como tem referido, “cada vez mais procura insinuar-se entre nós, nomeadamente através da sedução de jovens com responsabilidades políticas, alimenta-se não apenas das naturais limitações dos sistemas democráticos, mas também há que o reconhecemo-lo, do seu mau uso.”

Salientou que, em democracia, deve estar sempre presente a afirmação da autoridade legítima do Estado, não sendo aceitável uma atitude geral de tolerância para com “ataques injustificados, muito menos violentos ao seu exercício.”

E falando particularmente da justiça, salientou que, se as críticas, as manifestações de insatisfação são legítimas, elas devem ser sempre exercidas pelos meios adequados e permitidos em democracia e num Estado de Direito, e não pondo em causa os seus fundamentos e instituições.

No seu discurso Jorge Carlos Fonseca salientou que, não obstante, os inegáveis avanços que o sistema tem conhecido, dos quais a lei da paridade é exemplo paradigmático, não se pode ignorar as tendências populistas e os riscos a que todos estão sujeitos, não apenas pelas investidas de alguns de seus autores, mas, também, devido às conhecidas fragilidades.

Neste sentido, frisou que algumas questões devem ser abordadas de “forma clara”.

“Para além da importante dimensão subjetiva e política, que ganhos a democracia tem trazido para os cidadãos? Em que medida ela tem sido um instrumento essencial na busca e construção do bem-estar das pessoas e de combate às desigualdades e injustiças sociais e regionais?”, questionou.

Indo mais longe, Jorge Carlos Fonseca questiona se as opções que vêm sendo adotadas têm sido eficazes na resolução dos concretos problemas que afligem as pessoas, para depois pedir um forte combate às desigualdades sociais que considera “irrazoáveis.”

“Os combates às desigualdades sociais irrazoáveis têm de continuar a ser uma prioridade. É necessário tudo fazer para a sua significativa redução. Muito mais do que uma política, trata-se, como tenho sublinhado, de uma questão ética. As oportunidades de acesso ao pouco que temos devem, na medida do possível, ser iguais para todos”, recomendou.

O Presidente da República alertou também para o défice comunicacional entre os atores políticos e a população, sublinhando que o que inquieta e por vezes indigna o cidadão mais do que a não satisfação de uma reivindicação, é a ausência de explicação ou justificação das coisas.

“É fundamental que se atente para estes aspetos. É essencial que, em toda a circunstância, prevaleça a verdade, pois a adoção de posicionamentos ditados apenas por interesses imediatos, a prazo, revelam-se prejudiciais.

Neste que foi o seu último discurso na sessão solene comemorativa de 05 de julho, Jorge Carlos Fonseca manifestou a sua gratidão, por duas vezes ter tido o privilégio de representar o país ao mais alto nível ao país.

“Continuarei, até ao dia da posse do meu sucessor a tudo fazer para o bem do país e reitero o compromisso de continuar a trabalhar para que Cabo Verde seja uma nação de liberdade, uma democracia avançada, um país justo e desenvolvido”, prometeu.

-0- PANA CS/DD 06julho2021