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PIB de Cabo Verde aumentou 1,2% em dez anos como país de rendimento médio

Praia, Cabo Verde (PANA) – O Produto Interno Bruto (PIB) per capita de Cabo Verde cresceu em média 1,2 porcento, tendo passado dos três mil 378 dólares americanos para três mil 536 dólares anuais, em 10 anos de graduação do arquipélago para país de rendimento médio.

De acordo com o Banco Mundial (BM), o PIB per capita foi, a par do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que congrega indicadores de educação e saúde, um dos critérios de avaliação instituídos para a graduação de Cabo Verde do grupo dos países menos avançados para país de rendimento médio.

Apesar de Cabo Verde ter atingido os necessários três mil dólares americanos, desde 01 de janeiro de 2008, para se transformar num país de rendimento médio, essa graduação só viria a ser decidida, em 2014, pelas Nações Unidas, traduzindo-se num reconhecimento da comunidade internacional pelo “notável caminho” de desenvolvimento percorrido pelo país, desde a sua independência em 1975.

No entanto, Cabo Verde manteve a vulnerabilidade a nível ambiental e a nível económico e a acrescentar o país passou por vários constrangimentos estruturantes como a crise mundial, a seca e erupção vulcânica que, de acordo com governantes e analistas, condicionaram fortemente o crescimento do PIB per capita.

Já no primeiro ano de graduação, o PIB per capita caiu de três mil 378 dólares (2008) para três mil 300 dólares americanos (2009) e, a partir desse momento, teve crescimento muito ténue e até negativo, com a recuperação a efetivar-se partir de 2016.

No ano de 2017, o arquipélago registou um aumento de 2,5 porcento, e o montante do PIB fixou-se em três mil 536,9 dólares americanos anuais, aproximadamente 276 mil 946 escudos cabo.verdianos.

Outro realce tem a ver com o aumento da dívida pública, que passou dos cerca de 80 porcento, em 2008, para cerca de 130 porcento do PIB, em 2017.

Com a redução das ajudas externas e a fraca capacidade de mobilização dos recursos endógenos, o Estado cabo-verdiano enveredou-se para a dívida pública num cenário em que o dinheiro custa muito mais.

Para alguns analistas essa estagnação no crescimento do PIB per capita e o aumento da percentagem da dívida pública face ao PIB deveram-se à fraca dinâmica do crescimento económico que se associou às outras situações derivadas da crise e outros constrangimentos estruturantes como a seca.

Por sua vez, o Governo, ao fim de 10 anos da graduação de Cabo Verde para o grupo de países de rendimento médio, declara-se confiante na transformação do arquipélago num país desenvolvido a médio prazo e duplicar o rendimento per capita.

O vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, considera que, apesar de o país não estar, na altura, preparado para assumir essa condição, devido aos desafios que tinha que enfrentar, a graduação foi, sem sombra de dúvida, uma “solução boa” para Cabo Verde.

Segundo Olavo Correia, o país viu reduzidas para metade as ajudas públicas ao desenvolvimento, passando dos cerca de nove milhões de contos cabo-verdianos anuais para cerca de quatro milhões de contos, e deixou de ter empréstimos em condições preferenciais.

A graduação coincidiu também com o eclodir das crises e, por outro lado, o país foi ainda confrontado durante esse período com vários choques internos do ponto de vista da seca e da erupção vulcânica que levaram o arquipélago a ficar condicionado a um quadro orçamental mais restritivo.

“E para sair do sufoco, a resposta do país foi a aceleração da dívida pública o que colocou ainda mais restrições em relação ao futuro”, precisou.

Contudo, o vice-primeiro-ministro é taxativo em afirmar que não é a ajuda pública que vai fazer desenvolver Cabo Verde, mas sim a mobilização de recursos endógenos e estratégias para fazer o país criar riqueza.

“Um país que se preze, que é um país de rendimento médio tem que ter uma base de tributação que lhe permite investir na saúde, na educação, nos transportes e nas infraestruturas. Não pode ser um país que financia o seu orçamento com base apenas na ajuda pública“, sustentou.

O que importa neste momento, sublinhou Olavo Correia, é continuar a preparar o país para fazer face aos desafios próprios desse contexto de graduação.

“Estamos ainda nessa luta, porque a transformação setorial, seja ela a nível da agricultura, do turismo, mas também ao nível da construção de um setor privado empresarial forte e competitivo capaz de substituir o Estado num conjunto de matérias ao nível da gestão e dos investimentos leva no mínino 10 anos”, explicou, citando exemplos de países como Seicheles e Maurícias.

Neste sentido, indicou que há em curso uma série de reformas para criar um ambiente de negócios propício, ter um setor privado pujante que possa compensar a retirada do Estado no que tange aos investimentos nos setores rentáveis.

Estado deve concentrar-se nas atividades que são essenciais como a educação, a saúde e a segurança, e deixar que os transportes, os portos e os aeroportos e as energias possam ser financiados e geridos por empresas nacionais e internacionais, afirmou.

O vice-primeiro-ministro considera que o país tem todas as condições para atingir o rendimento médio alto e que, para que tal aconteça, o Governo vai investir na conetividade, para ligar as ilhas entre si e Cabo Verde ao mundo, melhorando os transportes aéreos, marítimos e conectividade tecnológica e qualificação dos recursos humanos.

“Temos um país que tem sol, muito mar, tem praias lindíssimas, temos ilhas maravilhosas, uma diáspora em todos os cantos do mundo com amor ao país e uma comunidade internacional com grande propensão para investir em Cabo Verde e uma juventude qualificada e preparada para servir o país”, elencou.

Disse acreditar que Cabo Verde só conseguirá avançar se tiver uma estratégia para viver do suor do seu esforço, pelo que os cidadãos têm de trabalhar para pagar impostos para que o Estado possa investir. "O país não pode estar a viver de mãos estendidas à espera da caridade da comunidade internacional”, observou.

Na sua perspectiva, o Governo está a caminhar para uma estratégia de desenvolvimento assertivo, apostando na economia do mar, nas tecnologias, no sistema financeiro e na plataforma comercial e industrial e nas energias renováveis, e fazendo de Cabo Verde um país plataforma, um país dos serviços com um sistema educativo de excelência, preparando quadros para competir no mundo.

Por outro lado, fala numa administração pública que sirva os cidadãos e as empresas do ponto de vista de decisão, facilitação, da criação de um ambiente de negócios de qualidade.

“Precisamos de um setor privado forte, com capacidade financeira, e o Governo está a formatar um ecossistema de financiamento para facilitar o financiamento às empresas que queiram investir, criar emprego e gerar rendimento", concluiu.

-0- PANA CS/IZ 26jan2019