Agência Panafricana de Notícias

Peritos analisam prestações dos Africanos no Mundial de 2010

Joanesburgo- África do Sul (PANA) -- Os seis representantes de África tiveram percursos diversos no Mundial 2010 da FIFA (Federação Internacional de Futebol), na África do Sul, com os Camarões num extremo após ter perdido todos os seus três jogos de grupo.
O Gana é descrito como "portador orgulhoso" da chama de todo um continente até à sua derrota nos quartos-de-final face ao Uruguai.
A FIFA contactou uma autoridade de cada uma dessas seis equipas africanas (África do Sul, Argélia, Camarões, Côte d'Ivoire, Gana e Nigéria) para ter opiniões de peritos sobre o modo como as elas evoluiram na África do Sul.
Da África do Sul, Clive Barker, técnico dos "Bafana Bafana" de 1994 a 1997 e com quem venceram o CAN (Campeonato Africano das Nações) em 1996, disse que pensava realmente que o desempenho dos anfitriões podia ter sido bem melhor.
"Fiquei muito dececionado ver a nossa eliminação na primeira volta.
Era um grupo realmente sólido que podia ir longe.
Pecámos por falta de experiência.
Devíamos ter ido até ao fim das nossas ocasiões, nomeadamente, durante o primeiro jogo contra o México, que devíamos ter vencido", disse.
Para ele, o encontro com o Uruguay "foi uma enorme deceção, pois nunca entramos neste jogo".
"Podíamos ter vencido França com uma larga margem.
Tivemos um dos melhores guarda-redes do torneio na pessoa de Itumeleng Khune.
Constatei igualmente que as melhores equipas do torneio têm técnicos nacionais e podíamos insprirar-nos nisso.
Agora é hora de nos concentrarmos no 2014 e evitar reproduzir os mesmos erros", advertiu.
Da Argélia foi abordado Rachid Mekhloufi, técnico dos "Fennecs" de 1971 a 1972, de 1975 a 1979 e em 1985, bem como mentor dos jogadores durante o Mundial da FIFA em Espanha em 1982.
Ele disse que a equipa argelina teve um "lindo percurso", mas que, como muitas vezes, "temos a impressão de que podia ter feito melhor.
"Com um pouco mais de organização, poderemos melhorar os nossos desempenhos.
Os jogadores deviam preparar-se melhor para esta competição e ser mais descontraídos", observou.
No entanto, continuou, a equipa tinha atingido os seus limites ao qualificar- se.
"O seu melhor desempenho foi contra o Egito durante as eliminatórias.
Todavia, é preciso reconhecer que esta equipa deu novas esperanças ao povo argelino, que ficou encantado pela sua equipa nacional".
Por seu turno, dos Camarões ouviu-se Alain Giresse, selecionador do Gabão de 2006 a 2010 que levou os "Leões Indomáveis" dos Camarões à qualificação para o Mundial da África do Sul 2010 e o CAN de Janeiro último.
"É lamentável não terem (os Leões Indomáveis) conseguido nenhum ponto.
Acho que abordaram muito mal o primeiro jogo contra o Japão mesmo parecendo maleável.
Depois disso, os seus objetivos e a sua abordagem da competição mudaram.
Creio que foram melhores contra a Dinamarca quando criaram numerosas ocasiões e que mereciam vencer", disse.
Para Giresse, esta derrota diante da Dinamarca acabou com os sonhos dos Leões Indomáveis, "mas não fiquei realmente surpreendido.
Senti que Samuel Eto'o tentou sempre levar a sua equipa o mais longe possível".
Sobre a Côte d'Ivoire, Robert Nouzaret, técnico dos "Elefantes" de 1996 a 1998 e de 2002 a 2004, disse que "houve melhorias em relação a 2006".
"É uma vergonha aparecerem de novo num grupo tão difícil.
Estou dececionado, pois podiam ter feito melhor se tivessem assumido mais riscos.
Queriam melhorar a sua campanha dececionante do CAN, reforçando a sua defesa.
Por conseguinte, esqueceram-se de explorar a sua maior força: o ataque", realçou.
No seu entender, a exoneração do técnico Vahid Halihodzic tão perto do torneio foi arriscada.
"Apesar de toda a sua experiência, Sven Goran Eriksson chegou um pouco tarde para melhorar realmente as coisas.
O seu sonho era obter quatro pontos e conseguiu-os mas isto não foi suficiente para evitar a eliminação".
Quanto ao Gana, Claude Le Roy, técnico dos Estrelas Negras de 2006 a 2008, disse que foi "extremamente triste para eles".
"É terrível chegar tão perto duma meia-final do Mundial e não a conseguir.
A equipa demonstrou muita maturidade e estava muito equilibrada.
Se Michael Essien estivesse lá, estou convencido de que o Gana teria chegado às meias-finais.
Faltou-lhes um jogador do seu calibre e é um dos jogadores mais completos no mundo", indicou.
Disse ainda ter ficado "fascinado" por Anthony Annan.
"Encontrei-o no 'Hearts of Oak' onde evoluia como lateral direito e, logo que o coloquei no meio-campo defensivo, soube que iria longe.
É um jogador extremamente inteligente.
A defesa foi muito satisfatória, e Richard Kingson estava em plena forma.
É um guarda-redes sub-explorado.
O objetivo agora é vencer o próximo CAN".
Para a Nigéria, Bora Milutinovic, técnico dos "Super Águias" de 1997 a 1998, incluindo durante o Mundial da FIFA de 1998 em França, disse não ter ficado muito surpreendido ver esta equipa fracassar, pois conhecia os problemas que costumava ter.
Segundo ele, a Nigéria é um país em que abundam talentos mas existe um tipo de impaciência.
"Fizeram uma boa campanha no Campeonato Africano das Nações em Angola, onde terminaram terceiros, mas, apesar disso, decidiram trocar de técnico".
"Pessoalmente, creio que Shaibu Amodu tinha feito um bom trabalho.
Tenho muito respeito por Lars Lagerback, mas não teve bastante tempo para passar a sua mensagem aos jogadores.
É muito difícil construir uma equipa em tão pouco tempo, pois os jogadores devem rapidamente adotar uma nova filosofia e novos métodos de trabalho", afirmou.
No plano individual, prosseguiu, Vincent Enyeama provou que é um grande guarda-redes, e a geração dos jogadores presentes nos Jogos Olímpicos de 2008 - Chinedu Ogbuke Obasi, Victor Obinna, Peter Odemwingie e Sani Kaita - "impressionaram-me igualmente.
Mostraram que a Nigéria dispõe de talentos".