Agência Panafricana de Notícias

Oposição cabo-verdiana minimiza ameaças de corte de ajuda dos Estados Unidos

Praia, Cabo Verde (PANA) – O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), principal força da oposição no arquipélago, revelou que não acredita que o país venha a ser penalizado pelos Estados Unidos pelo facto de ter votado a favor da resolução da ONU contra o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel.

Segundo o vice-presidente do PAICV, Rui Semedo, a relação entre os dois países foram estabelecidas muito antes do período da independência do arquipélago, em 1975, e são “tão profundas" que não se beliscam pelo citado posicionamento de Cabo Verde.

Por outro lado, disse, os Estados Unidos são "um país democrático e que luta pelo respeito dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”.

Contudo, reconheceu que esta matéria "é muito sensível" e que seria desejável que houvesse uma articulação mais ampla, em que seriam ouvidos os partidos políticos, antes da votação, "o que não aconteceu".

Rui Semedo disse esperar que pelo menos tenha havido uma “articulação entre os órgãos de soberania, designadamente o Governo, o Presidente da República e o Parlamento”, que levou Cabo Verde a votar neaquele sentido.

Esclareceu que, apesar disso, o seu partido “respeita a posição do Governo que deverá refletir o ordenamento jurídico nacional, bem como as posições estratégicas que Cabo Verde tem tomado ao longo de anos”.

“Cabo Verde deve ter a sua autonomia de pensamento e decidir de acordo com as avaliações que faz não só do contexto, como também do percurso que tem feito e dos posicionamentos que tem tomado”, precisou o dirigente do maior partido da oposição.

Neste sentido, ele recordou que o arquipélago tem procurado posicionar-se de acordo com a sua autonomia e independência em relação a processos internacionais e de várias questões da política externa.

À pergunta se o PAICV fosse ainda poder teria votado aquela resolução da ONU no mesmo sentido que fez o Executivo do atual primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva, Rui Semedo respondeu que o seu partido primeiro chamaria todos os partidos com assento parlamentar e fazia uma articulação para uma posição que refletisse um amplo entendimento nacional.

A 21 de dezembro do ano transato, Cabo Verde fez parte dos 128 países que votaram numa sessão da Assembleia Geral a referida Resolução das Nações Unidas apresentada por um grupo de países árabes e muçulmanos, na sequência da decisão do Governo norte-americano de reconhecer Jerusalém como capital de do Estado de Israel.

Mais de 100 países desafiaram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e votaram a favor de uma resolução da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas que pede que os Estados Unidos voltem atrás da sua decisão de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel.

Os mesmos países pedem igualmente que os Estados Unidos desistam da ideia de mudar a sua Embaixada no país para a cidade de Jerusalém.

Antes da votação, o Presidente Donald Trump ameaçou cortar a ajuda financeira aos países que votassem a favor da resolução, e o seu alerta parece ter tido algum impacto sobre nove países que votaram contra e 35 que se abstiveram, ao passo 128 países votaram a favor da resolução.

-0- PANA CS/IZ 05jan2018