Agência Panafricana de Notícias

Ministro líbio do Interior pede demissão após críticas de deputados

Tripoli, Líbia (PANA) - O ministro líbio do Interior, Faouzi Abdel Aal, apresentou o seu pedido de demissão ao primeiro-ministro Abderahim Al-Kib, em protesto contra as críticas dos deputados do recém-eleito Congresso Nacional Geral (Parlamento)dirigidas contra as forças de segurança líbias.

Estas críticas foram formuladas na sequência da onda de atentados e assassinatos perpetrados, nos últimos dias, nas cidades de Benghazi e de Tripoli, seguidos da demolição de santuários e da profanação de túmulos de figuras históricas do país.

Abdel Aal explicou que se demitia para defender os antigos rebeldes e os seus sacrifícios, após as críticas de alguns deputados contra os serviços de segurança, nomeadamente o Comité Supremo de Segurança que dele depende.

Este Comité integra a maioria dos antigos rebeldes líbios que derrubaram o antigo regime e que se responsabilizaram pela segurança do país antes de se juntar-se aos serviços do Ministério do Interior.

Os observadores consideram que tais declarações podem levar o país ao caos de uma insegurança generalizada, nomeadamente após a descoberta de células de numerosos fiéis ao antigo regime, que previam uma série de atentados e atos de violência no país.

Os membros do Congresso Nacional Geral, a mais alta instância política na Líbia, saída das eleições gerais de 7 de julho último, criticaram domingo os membros do Comité Supremo de Segurança, acusando-os de laxismo e de implicação na demolição de santuários de cheques sufis em várias cidades líbias, provocando um atmosfera de alta tensão no país.

Os órgãos de segurança foram objeto de duras críticas dos cidadãos e no seio dos membros do Parlamento eleito no quadro dos atentados a carros armadilhados em Tripoli, há cerca de uma semana, que fizeram dois mortos e pelo menos quatro feridos.

O presidente do Congresso Nacional Líbio, Mohamed Al-Magueryef, condenou, sábado à noite, num discurso transmitido pela rádio e pela televisão, a destruição dos santuários místicos nas cidades de Zliten, a 160 quilómetros no leste da capital, e de Tripoli.

Ele anunciou uma sessão especial do Congresso, na presença do primeiro-ministro, de chefes dos serviços de Inteligência e dos ministros do Interior e da Defesa e de um certo número de responsáveis para discutir sobre os tais desenvolvimentos.

Al-Megueryef lembrou que a Líbia viveu, durante os últimos dias, um certo número de incidentes dolorosos que causaram a morte de vários inocentes e durante os quais foram perpetrados atos de demolição, agressão, sabotagem, incêndios e destruição de bens religiosos, documentos e manuscritos da história do país.

Ele avisou que o Congresso "não vai hesitar em tomar as decisões radicais que se impõem contra autores passíveis de processos judiciais".

O responsável líbio considerou que a destruição de edifícios com caráter científico, cultural e histórico, bem como a profanação de cimitérios muçulmanos e túmulos "é inadmissível, repreensível e condenável religiosamente, segundo os costumes e a lei".

Disse-se surpreso com a participação de serviços dos órgãos de segurança e dos antigos rebeldes nestes atos.

No fim de semana, circularam rumores em Tripoli, indicando que responsáveis dos serviços de segurança ligados a correntes islamitas radicais estiveram implicados na demolição de santuários.

A PANA constatou em Tripoli que veículos todo-o-terreno cobertos de baterias anti-aéreas de calibre 14,5 mm, conduzidos por "homens barbudos" em uniforme do Exército nacional encerraram a estrada que conduz ao santuário de Al-Chaab, enquanto um trator gigante demolia o portão do edifício histórico de centenas de anos.

Um grupo de presumíveis radicais salafistas demoliu, quinta-feira à noite, o túmulo do xeque sufi Abdessalem Al-Asmar, que foi provavelmente construído no século XVI.

Os assaltantes transformaram o santuário em ruinas e colocaram fogo numa biblioteca histórica na mesquita Al-Asmaria perto do santuário, que formou milhares de especialistas em ciências corânicas e detruíram milhares de livros e manuscritos.

Segundo informações chegadas de Misurata, a 200 quilómetros leste de Tripoli, o túmulo de um outro santo sufi, xeque Ahmed Al-Zarouk, foi demolido, sábado.

Em Tajoura, subúrbio leste de Tripoli, centenas de discíplos sufis organizaram, sábado à noite, um concentração, acompanhados de cidadãos e na sua maioria armados de espingardas automáticas, junto ao túmulo do santo "Andaloussi", afirmando que o vão defender até à morte.

Um vasto debate decorre atualmente entre os Líbios de diversas origens dos opositores e partidários destes atos nas páginas das redes sociais "Facebook" e "Twitter".

Centenas de organizações da sociedade civil líbia concentraram-se domingo diante do mausoléu devastado de Al-Chaab para condenar estes atos e reclamar por prestação de contas aos seus responsáveis, enquanto rumores davam conta de que "radicais armados" queriam demolir a Praça histórica da Gazelle, no centro da capital líbia, embelezada pela estatuta de uma mulher escultada em bronze levando consigo um jarro de água e uma gazela.

-0- PANA AD/BY/JSG/IBA/CJB/IZ 27ago2012