Agência Panafricana de Notícias

Líder da oposição antevê "tempos difíceis" para Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) - O presidente do Movimento para Democracia (MpD), maior partido da oposição em Cabo Verde, anteviu, quarta-feira, “tempos difíceis” para o país, devidos à necessidade que o país terá para reduzir o atual défice orçamental “de 10,1 porcento para menos de 3,6 porcento do Produto Interno Bruto (PIB em 2015”, apurou a PANA na cidade da Praia de fonte partidária.

Carlos Veiga, que falava em conferência de imprensa para fazer o balanço do ano político do seu partido, disse que Cabo Verde está a crescer abaixo da sua potencialidade e que as perspetivas das últimas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam para uma estagnação até 2016.

“Com esse ritmo, não teremos quaisquer possibilidades de reduzir o desemprego”, advertiu o opositor, sublinhando que o ajustamento orçamental que é necessário fazer vai obrigar a reduzir o défice de “menos de 10.1 porcento para menos de 3.6 porcento do PIB em 2015”.

O líder do maior partido da oposição, que estava à frente do Governo entre 1991 a 2000, culpa o atual Executivo do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) de, durante os 11 anos em que está no poder , “não ter conseguido trazer soluções para os problemas” do arquipélago.

"Apesar do panorama sombrio que se desenha e que é a realidade nua e crua vivida por milhares de Cabo-verdianos, o Governo não quer dizer a verdade e, na prática, não dialoga com a sociedade”, denunciou José Maria Neves, precisando que, perante a necessidade de se atingir um défice orçamental na ordem dos 3 porcento, “é preciso que os Cabo-verdianos saibam o que os espera”.

Carlos Veiga considera que, perante este cenário “sombrio”, já é hora de o Governo de José Maria Neves “dizer a verdade ao país” e “mudar de rumo na política económica".

O presidente do MpD realça o facto de a confiança dos operadores económicos estar "baixa e negativa", enquanto setores estratégicos como o turismo, a pesca ou transportes foram "completamente abandonados à sua própria sorte" e o sistema de ensino e formação está "longe de responder às exigências de qualidade do presente e do futuro próximo".

Carlo Veiga acusa ainda o Governo de não ter feito “as reformas estruturais necessárias na administração e descentralização do Estado, incluindo na regionalização, na fiscalidade, na justiça, no mercado laboral, nas privatizações, no ambiente de negócios ou na regulação”.

O líder da oposição acusa também o Executivo de não ter resolvido os problemas básicos do abastecimento de água, da eletricidade, do saneamento ou da habitação e de incapacidade para enfrentar os crimes violentos que grassam nas cidades.

Carlos Veiga considera ainda que o Governo do PAICV não preparou o país para viver sem ajuda externa ou enfrentar a sua redução significativa, como "já está a acontecer".

Em julho último, a Standard and Poor´s (S&P, agência mundial de notação financeira) manteve a classificação da dívida soberana de Cabo Verde em B+/B, atribuída no início de 2012, mas aconselhou o Governo do arquipélago a reduzir as despesas de investimentos e melhorar a arrecadação de impostos.

A agência mundial de notação financeira «espera ver, em tempo razoável, o défice público cair de “7,9 porcento do PIB, em 2011, para 3 porcento em 2015”.

Para o efeito, a S&P disse esperar que o Governo de José Maria Neves abrande “o seu ambicioso estímulo à economia, através da diminuição das despesas de investimento”.

Para atingir esse objetivo até 2015, o Executivo da Praia terá que “melhorar a arrecadação de impostos”, nomeadamente através da criação de uma forte legislação para combater a evasão fiscal.

“A desaceleração global vai afetar as receitas em conta corrente, especialmente do turismo", lembrou a agência, que adverte para o facto de também o programa do Governo para promover o investimento poder não obter os resultados esperados devido à crise financeira internacional.

A este propósito, lê-se no documento da S&P, que Cabo Verde deve garantir o apoio dos países doadores, "embora a sua transição para a lista dos países de rendimento médio, provavelmente em 2013, reduza o seu acesso ao financiamento".

Em 2011, o défice de Cabo Verde em conta corrente aumentou cerca de 18 poprcento, um facto que preocupa a Standard and Poor´s visto que o arquipélago começa a sofrer fortemente os efeitos da crise.

Assim, a agência espera que o Investimento Direto Externo, os desembolsos oficiais e as remessas dos emigrantes não sofram fortes retrações, caso contrário o grande défice comercial do país pode ainda entrar em colapso.

A S&P recomenda ao Governo de Cabo Verde a diversificação do investimento e uma aposta firme nas energias limpas.

-0- PANA CS/DD 02ago2012