Agência Panafricana de Notícias

Graça Machel elogia estabilidade e alternância política na governação em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) – A antiga primeira-dama  e ativista social Graça Machel elogiou, segunda-feira, na Cidade da Praia, o facto de Cabo Verde ser um país estável e que  manteve a estabilidade da alternância política na sua governação, apurou a PANA de fonte segura.

A antiga mulher do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, e viúva do líder histórico sul-africano Nelson Mandela, deslocou-se a Cabo Verde a convite do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, tendo participado, no sábado, em Tarrafal de Santiago, numa conversa com o chefe do Governo sobre questões de desenvolvimento, educação, igualdade de género e luta contra pobreza.

Graça Machel, que foi recebida, pelo Presidente da República, José Maria Neves, é ainda convidada especial do Instituto Pedro Pires para a Liderança (IPP) para conversar sobre os desafios da liderança feminina.

O evento aconteceu na tarde de segunda-feira, 12 de Setembro, dia do nascimento de Amílcar Cabral, em 1924,  que se fosse vivo faria 98 anos (foi assassinado a 20 de janeiro de 1973).

Em declarações à imprensa, a ativista moçambicana assinalou que Cabo Verde já é considerado país de desenvolvimento médio, tornando-se o único entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) que atingiu este estatuto.

Do encontro com o Presidente da República avançou que esteve a assinalar alguns dos sucessos que considerou os mais marcantes do desenvolvimento deste país, sucessos esses que disse esperar que sejam mais partilhados entre os PALOP, de modo que alguns dos bons exemplos de Cabo Verde possam também inspirar Moçambique, Angola, Guiné Bissau e São Tomé.

“E repara que isso foi conseguido não na base de recursos naturais muito avultados como se tem noutros países”, afirmou, apontando um investimento muito bom no desenvolvimento do capital humano.

Neste sentido, ela realçou o papel do capital humano, afirmando que o arquipélago tem sido capaz de transformar, de inovar, de levar, de fato, as instituições do Estado a atingir os níveis de desenvolvimento, como lições extremamente importantes.

Entretanto, entende ser natural a permanência ainda de desigualdades em Cabo Verde, tendo realçado, por exemplo, a aprovação neste país de uma lei de igualdade de género, salientando que é também importante agora analisar e saber como é que isso se aplica em termos de atingir a paridade, não só ao nível do Governo, mas também, no parlamento.

“É verdade que Cabo Verde já reduziu os níveis de pobreza, mas ainda tem, então, não há estádio de desenvolvimento nenhum que seja perfeito, é preciso construir na base daquilo que já se conseguiu e fazer o melhor”, reconheceu.

Falando da situação interna no seu pais natal, a também vencedora do Prémio Norte-Sul e da Medalha Nansen da ONU, chamou a atenção para os "riscos muitos grandes" da insurgência armada no norte de Moçambique e pediu uma gestão "plena e completa" dos recursos, em benefício de todos.

"Logo no início, quando se começou a falar do gás, nós sempre insistimos que não deveria transformar-se numa ameaça, mas infelizmente os riscos são muitos grandes", recordou a ativista.

Com ou sem insurgência é preciso gerir os recursos com consciência plena e completa de que esses recursos são para servir todos e cada um dos moçambicanos", defendeu, considerando que é preciso mecanismos para permitir que todos os moçambicanos possam beneficiar dos recursos.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde há um ano por forças do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas levando a uma nova onda de ataques noutras áreas, mais perto de Pemba, capital provincial, e na província de Nampula.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

0 – PANA – CS/MAR13 setembro 2022