Agência Panafricana de Notícias

Governo reconhece complexidade da gravidez nas escolas em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) – O primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, reconheceu esta terça-feira, na cidade da Praia, que a gravidez nas escolas é um problema complexo e que algo deve estar a falhar “em algum lugar”.

O chefe do Governo cabo-verdiano, que visitou durante o dia os estabelecimentos de ensino secundário e universitário na cidade da Praia, considera que este é um fenómeno que diz respeito ao sistema educativo, às famílias e à sociedade em geral.

Por isso, disse, “temos de procurar melhorar os níveis de socialização de informações e de dados e melhorar a educação sexual nos nossos estabelecimentos de ensino”.

José Maria Neves disse que se deve também trabalhar mais com a comunidade educativa, com os pais e com a sociedade porque se trata de uma questão “grave” e que deve ser debelada nos estabelecimentos de ensino de todo o país.

Confirmou que tem havido "mão pesada" em relação aos docentes que têm estado, em alguns casos, a engravidar as próprias alunas.

“Em relação aos professores, os processos são céleres e o Ministério da Educação tem tomado medidas duras relativamente a atitudes e comportamentos dos mesmos”, afirmou o primeiro-ministro.

O chefe do Executivo contou ter recebido, recentemente, uma carta de um professor que foi demitido por atitudes menos dignas nos estabelecimentos de ensino a reclamar porque ficou sem condições para sustentar os filhos.

“Mas aqui temos de ser absolutamente duros e a tolerância é mesmo zero em relação a esse tipo de atitude e de comportamento”, afiançou.

Um estudo feito pela socióloga cabo-verdiana Antónia Teixeira indicava que, já em 2009, cerca de 10 porcento das adolescentes de Cabo Verde, entre os 15 e os 17 anos, deixam a escola por causa da gravidez precoce.

A socióloga considera que, com esse comportamento, os jovens cabo-verdianos estão mostrando, nessa fase de adolescência, uma curiosa contradição, pelo facto de estarem começando a ter relações sexuais cada vez mais cedo.

"Atualmente, a maternidade antecipada já é a principal causa de evasão escolar de meninas nesta faixa etária. A maioria vem de famílias mais carentes e com uma cultura enraizada e de difícil influência", destaca a socióloga.

Após abordar vários alunos e professores de diferentes escolas da capital, chegou à conclusão que, apesar de conhecerem todos os mecanismos de precaução, as jovens deixam-se engravidar conscientes das consequências, havendo algumas que são claras, ao afirmarem que a virgindade "deixou de ser levada a sério".

"A primeira relação sexual surge por volta dos 14 anos e a virgindade é coisa do passado", defendem.

A esse respeito, explicou a socióloga, a gravidez está a tornar-se num "grande problema na educação, pois a realidade mostra que só existem dois caminhos: anular a matrícula e perder um ano escolar ou abandonar os estudos para cuidar da criança".

"Normalmente, as adolescentes jogam os filhos para os avós criarem e tentam trabalhar para sustentá-los. Muitas deixam a escola e nunca mais voltam. Esta atitude provoca uma geração de pais inexperientes e confusos, cujos filhos se podem transformar em adultos sem referências", adverte Antónia Teixeira.

A socióloga concluiu que "este fenómeno não se explica por uma única causa ou fator, mas por um conjunto de fatores que influenciam os contextos de vida dos jovens, cujos padrões e regras mudam nas transações que o indivíduo estabelece com o seu meio".

-0- PANA CS/IZ 06maio2014