Agência Panafricana de Notícias

Governo e oposição divididos sobre “estado da Nação” em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) – O últilmo debate parlamentar sobre o “estado da Nação”, realizado sexta-feira última, em prelúdio às próximas eleições legislativas em Cabo Verde, foi marcado pelas leituras contraditórias entre o Governo e os partidos da oposição, tendo em conta a atual conjuntura do país.

Ao proceder à abertura do último debate em que partcipou como chefe do Governo, uma vez que já não se vai recanidatar ao cargo, o primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, afirmou que o país conseguiu "progressos significativos" nos últimos 15 anos, em que ele está à frente dos destinos de Cabo Verde.

"O país fez progressos significativos, permitindo-nos doravante ir mais depressa e com maior segurança, acelerar o ritmo nos próximos tempos. O país está num outro patamar", regozijou-se José Maria Neves.

No entanto, ele reconheceu que Cabo Verde ainda enfrenta "importantes desafios" em diversas áreas.

"Subsistem ainda desafios importantes. Uns prendem-se com a condição de pequeno Estado insular e arquipelágico, outros com condicionalismos antigos e estruturais, outros também resultam do próprio progresso que se vai conseguindo", realçou.

"Quanto mais avançarmos, mais crescem as expetativas e tudo se torna mais completo”, disse o primeiro-ministro cabo-verdiano, sublinhando que “nem tudo foi feito, mas foi feito tudo o que era possível fazer".

José Maria Neves passou, nessa ocasião, em revista os 15 anos de governação, enumerando os "passos significativos" em todos os setores de atividades.

Projetou ainda o futuro de Cabo Verde no horizonte de 2030, apontando áreas que podem aumentar o crescimento, como economias criativas, a economia azul, energias renováveis, aeronegócio, agronegócio e gestão eficaz e eficiente das infraestruturas construídas.

"As metas são inegavelmente ambiciosas. Mas as bases já foram construídas, as pontes e as estradas para o futuro já foram lançadas", insistiu o primeiro-ministro, pedindo um pacto à oposição para a despartidarização da Administração Pública.

Contrariando a leitura otimista feita pelo chefe do Governo, o líder parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD), principal partido da oposição, Fernando Elísio Freire, disse que o “Estado da Nação” é de empobrecimento e que o problema de fundo que afeta a sociedade cabo-verdiana é de natureza política e de conceção e exercício de poder.

Segundo Elísio Freire, o Governo liderado por José Maria Neves teve tempo, recursos financeiros e estabilidade governativa para apresentar melhores resultados.

"A nação vive um dos momentos mais difíceis da sua caminhada. Vive em estado de emergência no mundo rural e numa situação de degradação económica, social e institucional", denunciou o líder parlamentar, dizendo que o país tem o mais baixo crescimento económico e a mais alta taxa de desemprego dos últimos 40 anos.

"O modelo político-económico do Governo asfixiou o potencial de iniciativa empresarial do país e impediu a formação de uma classe empresarial dinâmica e forte", indignou-se o opositor-

Adiantou que, se o MpD for Governo. irá implementar uma conceção de exercício de poder "completamente diferente", com “mais liberdade, mais autonomia e mais iniciativa privada".

"O país pode crescer muito mais. Cabo Verde tem potencial positivo. O problema está neste Governo", criticou o dirigente partidário, para quem o MpD é uma "alternativa clara" de governação e o emprego será a prioridade.

Também o líder da União Cabo-verdiana, Independente e Democrática (UCID), partido da oposição com dois assentos no Parlamento, António Monteiro, considera que o estado da Nação cabo-verdiana "não é bom".

Apesar de o Governo ter gasto 660 mil milhões de escudos em 15 anos, ainda persiste o clima de insegurança, uma política fiscal injusta, água e energia mais caras do mundo e jovens formados sem possibilidades de emprego.

O líder dos democratas-cristãos pediu "algo diferente" para o país, sublinhando que a "economia moribunda", as instituições em "pé de guerra" com o Governo.

A seu ver, falta um programa para ajudar os agricultores a salvarem o gado num momento em que o país vive um período de seca, e faltam igualmente políticas sociais para acudir as populações em dificuldades.

-0- PANA CS/DD 01agosto2015