Agência Panafricana de Notícias

Faleceu Dom Paulino Livramento Évora, primeiro bispo católico cabo-verdiano

Praia, Cabo Verde (PANA) - O primeiro cabo-verdiano ordenado bispo da Igreja Católica, Dom Paulino Livramento Évora, faleceu, domingo último, na cidade da Praia,  vítima de doença prolongada, apurou a PANA de fonte segura.

A sua morte ocorreu a seis dias do seu 88.º aniversário natalício, de acordo com a fonte.

O prelado foi nomeado bispo pelo Papa Paulo VI, tendo tomado posse da então Diocese de Cabo Verde, a 22 de junho de 1975, pouco dias antes da proclamação da independência do país, precisamente a 05 de julho do mesmo ano. 

Dom Paulino Livramento Évora permaneceu no cargo durante 34 anos, ou seja até a 14 de agosto de 2009, altura em que apresentou a sua resignação, por motivo de idade, ao então Papa Bento XVI, que logo depois nomeou, como seu substituto, o agora cardeal Dom Arlindo Furtado, então bispo da Diocese do Mindelo, a segunda diocese cabo-verdiana criado em novembro de 2003.

Após a ordenação sacerdotal, a 16 de dezembro de 1962, aquele que passou a ser, depois da sua resignação, Bispo Emérito da Diocese de Santiago, trabalhou, inicialmente, em Portugal tendo sido, mais tarde, enviado para Angola.

Primeiro foi para o centro-sul de Angola, e, posteriormente, para o norte, na Diocese de Malange onde trabalhou em duas missões.

Nos primeiros sete anos, trabalhou na Missão chamada então Duque de Bragança, atualmente Calandula e, depois, esteve cerca de três anos na missão de Cacuso, onde se encontrava quando foi nomeado bispo da Diocese de Cabo Verde.

De acordo com o jornal católico Terra Nova, “a Igreja, sob a sua orientação pastoral, conheceu grandes progressos em termos de organização, de aumento de padres, religiosos e leigos ,para a obra da Evangelização”.

O mesmo periódico salienta ainda que “uma atenção especial foi dada por Dom Paulino à Catequese, à Juventude e à pastoral familiar, aspetos que se mantiveram sempre como prioridades pastorais”.

Segundo o mesmo jornal, Dom Paulino investiu no Seminário diocesano S. José – coração da diocese – grande parte dos recursos financeiros de que dispunha, fruto de muitos pedidos ao Exterior.

Chegou a criar o Seminário Maior no antigo edifício do Seminário, infelizmente de pouca duração.

Como resultado da aposta vocacional, ele ordenou quase todos os padres diocesanos em atividade agora na diocese de Santiago e alguns da diocese de Mindelo e dezenas de religiosos Espiritanos, Capuchinhos e Franciscanos.

O jornal ligado a Igreja Católica salienta ainda que “pelo seu jeito direto e frontal, granjeou amigos e não faltaram também alguns adversários.

Na verdade, não se pode ficar indiferente ao ensinamento e conversas de Dom Paulino, que marcou positivamente a história recente da Igreja nos 34 anos de serviço”.

Dom Paulino Livramento Évora era o decano dos Bispos da Região oeste-africana, e residia na residência das Irmãs Franciscanas em Achada Santo António, desde 2009, altura em que passou a bispo emérito.

O Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, reagiu com “muita consternação e tristeza” à morte do Bispo emérito de Cabo Verde, Dom Paulino Évora, personalidade que, segundo disse, “representou uma figura de marca da Igreja Católica cabo-verdiana.

O chefe do Estado cabo-verdiano realçou que Dom Paulino Évora “foi uma personalidade de referência na vida nacional, particularmente no pós-independência” e que “Cabo Verde perde uma personalidade que teve uma importância crucial na afirmação da Igreja Católica em Cabo Verde”, sendo, para ele “figura de referência na missão de evangelização da igreja” no pais.

Jorge Carlos Fonseca lembrou que Dom Paulino Évora “dizia sempre que o desenvolvimento que não tem no encontro o homem não é, verdadeiramente, o desenvolvimento”, sublinhando que os critérios que defendia foram sempre de “dignidade da pessoa humana e da sua afirmação, enquanto defensor dos valores da liberdade.

“Foram estes critérios que o rodearam, assentes na sua visão e avaliação do percurso que o país foi tendo. Neste sentido, foi crítico em relação aos aspetos do partido único mas um homem nunca ligado a partidos políticos. E foi crítico sempre que era necessário que fosse”, frisou.

-0- PANA CS/DD 16junho2019