Agência Panafricana de Notícias

Estudantes cabo-verdianos em Wuhan protestam contra recusa de seu repatriamento

Praia, Cabo Verde (PANA) - Estudantes cabo-verdianos na cidade chinesa de Wuhan, epicentro do coronavírus, exigem respostas urgentes das suas autoridades en Cabo Verde, nomeadamente o seu repatriamento, apurou a PANA de fonte segura.

Numa carta enviada segunda-feira última ao ministro cabo-verdiano dos Negócios Estrangeiros, Luís Filipe Tavares, à embaixadora de Cabo Verde na China, Tânia Romualdo, e a outras entidades, os estudantes manifestaram a sua preocupação face à situação em que estão a viver nos últimos tempos, na China.

A sua mobilização segue-se a uma declaração feita pelo chefe da diplomacia cabo-verdiana e segundo a qual "a ideia de uma eventual evacuação dos 16 estudantes que estão naquela cidade (Wuhan), contraria frontalmente as diretrizes das autoridades da República Popular da China e da Organização Mundial de Saúde (OMS)".

Na missiva, divulgada pela imprensa cabo-verdiana, os estudantes fazem igualmente alusão a um comunicado emitido pelo ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades, a 29 de janeiro último, segundo o qual foi criada uma equipa operacional que, juntamente com a Embaixada de Cabo Verde em Pequim (capital chinesa), visa acompanhá-los e garantir-lhes  “todo o apoio possível.”

A este propósito, eles sublinham, primeiro, gostar de saber se há já um plano prático de ação e se a equipa pretende contornar  constrangimentos logísticos inerentes a um acompanhamento à distância e à diferença horária entre os dois países, e, sobretudo, face ao isolamento da cidade de Wuhan.

“Por último, gostaríamos de saber, particularmente, caso algum estudante esteja infetado, que medidas práticas serão tomadas e como será o acompanhamento do mesmo”, lê-se na carta.

Também querem saber se diretivas das autoridades da República Popular da China e da OMS, nomeadamente a contenção da disseminação do vírus, “variam de país para país, ou se só se aplicam aos estudantes cabo-verdianos de Wuhan”.

Disseram ter assistido a evacuações diárias de cidadãos estrangeiros para seus países de origem, com apoio total dos seus respetivos governos”.

Na sua missiva, os estudantes sublinharam que “nos últimos dias, o país (Cabo Verde) tem recebido cidadãos chineses e estudantes cabo-verdianos, provenientes de outras cidades da China (que Wuhan). No entanto, este acolhimento é feito sem grandes medidas de contenção nem de prevenção, sendo-lhes apenas aconselhado fazerem uma quarentena domiciliar voluntária, o que ainda assim constitui um risco para o país."

“Temos, portanto, assistido a várias declarações que contradizem aquilo que foi utilizado como justificativa da recusa da nossa evacuação”, argumentaram.

"Porque é que não se aplicam as mesmas medidas aos cidadãos estrangeiros provenientes de países onde já existem casos confirmados, uma vez que não podem regressar ao país", interrogam-se.

“A forma como se tem falado de nós, os estudantes de Wuhan, parece que já estamos infetados por vivermos no epicentro da epidemia. Por isso, estamos condenados a ficar”, indignaram-se, perguntando se por quanto tempo as autoridades cabo-verdianas pretendem deixá-los no local que é um foco da epidemia.

Retorquindo nesta quinta-feira, o diretor nacional da Saúde, Artur Correia, afirmou que as autoridades da saúde está a acompanhar a evolução da epidemia de coronavírus.

Declarou que nenhuma das mais de 20 pessoas que já regressaram da China apresentou qualquer sintoma de infeção pelo vírus que tem origem naquele país asiático e que já se espalhou por mais de duas dezenas de países.

“Há cerca de duas semanas que Cabo Verde entrou em modo emergencial. De imediato, todos os serviços da rede pública de saúde foram devidamente alertados e acionou-se a equipa técnica de intervenção rápida e uma série de medidas começaram a ser tomadas”, prosseguiu.

"As normas técnicas de preparação" para fazer face a esta epidemia de coronavírus "foram enviadas para todas as estruturas de saúde do país, respeitando as normas emanadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), estando-se agora a implementar estas normas para fazer face a uma eventual epidemia", acrescentou.

Outro passo dado foi o "reforço das medidas de vigilância nos pontos de entrada" no país, "com especial destaque para aeroportos internacionais" onde pessoas provenientes da China recebem uma triagem para se descartar casos suspeitos, beneficiam de medidas protetoras, informação, educação e comunicação, e aconselhamento para a tomarem medidas protetoras ao nível domiciliar", como a restrição social para ajudarem na prevenção da entrada do vírus em Cabo Verde, segundo o responsável.

Iniciado está igualmente o processo de "dotar o país de materiais e equipamentos necessários" para os próximos seis meses, disse.

Em funcionamento já está uma linha telefónica, 8001112, em parceria com a Proteção Civil, que foi instalada para apoiar, nesta primeira fase, todos os regressados da China, quer estudantes quer Chineses", assegurou o diretor nacional de Saúde.

Atrás desta linha telefónica nacional única, indicou, estão dois médicos por cada Delegacia de Saúde que serão acionados, em caso de necessidade, para aconselhamentos aos estudantes e Chineses regressados, e encaminhamento para as estruturas de saúde em caso de necessidade".

Para além desta linha telefónica, acrescentou Artur Correia, todas as pessoas que regressaram da China estão a ser acompanhadas quer presencial quer telefonicamente todos os dias pelos delegados de saúde e pelas autoridades sanitárias de cada concelho.

A China está a enfrentar, desde finais do ano de 2019, uma epidemia de coronavírus que teve o seu epicentro na cidade de Wuhan.

Segundo a última atualização, já morreram cerca de 500 pessoas.

Entretanto, quarta-feira última, em conferência de imprensa, na cidade da Praia, o diretor nacional da Saude disse que as 28 pessoas que estão na China manifestaram interesse em viajar para Cabo Verde, sendo que 20 já estão no país, faltando mais oito que deverão chegar nos próximos dias.

Entre as pessoas que vão regressar de várias províncias da China, à exceção de Wuhan, estão estudantes cabo-verdianos residentes na China, mas também cidadãos chineses, muitos dos quais vivem e trabalham em Cabo Verde.

“Todas as pessoas que regressarem da China são acompanhadas, quer presencial, quer telefonicamente, diariamente pelos delegados de Saúde e pelas unidades sanitárias em cada concelho”, referiu Artur Correia, garantindo que todas as estruturas de saúde do país estão minimamente preparadas para o acompanhamento rigoroso de todos os casos.

O diretor nacional de Saúde disse que, após a constatação a nível internacional da gravidade da situação da epidemia do novo coronavírus na China, Cabo Verde também entrou em “modo emergencial”, e todos os serviços públicos de saúde foram alertados.

Também se acionou uma equipa técnica de intervenção rápida, e uma série de medidas começaram a ser tomadas, no sentido de uma preparação, de acordo com as normas técnicas da Organização Mundial de Saúde (OMS), concretizou o médico.

“Neste momento, todas as estruturas sanitárias do país já dispõem de normas técnicas, tanto em aspetos organizacionais e funcionais, para consolidar essa fase de preparação, para uma eventual epidemia”, garantiu.

O mesmo responsável adiantou ainda que o país reforçou os níveis de vigilância nos pontos de entrada, com especial destaque para os aeroportos internacionais, onde as pessoas provenientes da China recebem uma triagem para descartar casos suspeitos e sintomáticos, medidas protetoras, informação e aconselhamento a nível domiciliar.

Relativamente ao isolamento das pessoas provenientes da China, Artur Correia reforçou que a Constituição não permite internamentos compulsivos e nem a OMS está a recomendar quarentena aos países, embora alguns já estejam a fazê-lo.

O diretor nacional de Saúde disse igualmente que o Gabinete de Assuntos Farmacêuticos já começou os preparativos para dotar o país de materiais e equipamentos de proteção individual, para pelo menos seis meses.

“Começámos a mobilizar, desde a semana passada, todos os equipamentos de proteção individual e outros existentes no país e, ao mesmo, tempo acionamos a importação de mais produtos para um período de seis meses”, revelou.

Cabo Verde já tem também uma linha telefónica, em parceria com a Proteção Civil, o 800 11 12, para apoiar, nesta primeira fase, todos os regressados da China, para aconselhamentos e encaminhamentos para as estruturas de saúde, em caso de necessidade.

-0- PANA CS/DD  05 fev 2020