Agência Panafricana de Notícias

Credibilidade das Nações Unidas em jogo na RCA, segundo Amnistia Internacional

Dakar, Senegal (PANA) – A Amnistia Internacional (AI), organização de defesa dos direitos humanos sediada em Londres (Inglaterra), está preocupada com a situação na República Centroafricana (RCA), indicando que a credibilidade das Nações Unidas está em jogo neste país onde se assiste a um recrudescimento dos ataques contra os civis, segundo um comunicado transmitido à PANA em Dakar.

« A Missão de Manutenção da Paz das Nações Unidas na República Centroafricana deve tomar medidas audaciosas para proteger os civis no contexto duma escalada dos ataques motivados pela intolerância religiosa no centro do país », declarou a AI no comunicado depois de visitar algumas zonas mais afetadas.

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos, apesar do desdobramento duma nova Missão de Manutenção da Paz da ONU a 15 de setembro último várias dezenas de civis, dos quais numerosas crianças, morreram e milhares de outros foram deslocados nestas últimas semanas.

O comunicado nota que se a capital, Bangui, foi abalada por um ressurgimento das violências desde o início de outubro último, as populações que vivem no centro da RCA foram particularmente afetadas por um agravamento dos conflitos entre os diferentes grupos armados.

« Se a Missão de Manutenção da Paz da ONU quiser continuar a ser credível, ela deve tomar medidas firmes para proteger os civis da série de abusos aos quais eles estão expostos », afirmou o diretor regional adjunto da AI para a África Ocidental e Central, Stephen Cockburn.

"Com os Seleka, os anti-Balaka e os combatentes fulas armados que perpetram ataques no centro da RCA, a situação está extremamente explosiva e perigosa. Se medidas urgentes não forem tomadas ela poderá culminar no tipo de violências interreligiosas deliberadas de que fomos testemunhas no início deste ano no oeste do país", sublinhou.

Numa visita às zonas do centro da RCA, a AI declarou ter recenseado ataques recentes contra civis nas cidades de Dekoa e de Bambari e em várias cidades perto de Bambari, das quais as de Yamalé, Batobadja, Matchika, Tchimangueré, Gbakomalékpa e Baguela.

O comunicado indicou igualmente que as forças da Séléka, essencialmente muçulmanas doravante divididas em pelo menos dois grupos armados, estão a bater-se com as milícias cristãs e animistas anti-Balaka na região desde os últimos meses.

« Todas as partes, os Séléka, os anti-Balaka e os fulas armados (que pertencem essencialmente a um grupo dissidente Séléka) visam sistematicamente os civis que eles acreditam que apoiam os seus adversários », notou.

« Bambari e Dekoa são doravante cidades fantasmas, cheias de casas vazias, de lojas fechadas e de instalações abandonadas. As forças internacionais presentes no país devem intensificar os seus esforços para proteger os civis e garantir que eles possam regressar às suas casas e viver em segurança”, declarou Stephen Cockburn.

A organização de defesa dos direitos humanos revela que a Missão de Estabilização Integrada Multidimensional das Nações Unidas na RCA (MINUSCA), desdobrada a 15 de setembro último, não está em condições de impedir estes abusos ou de pôr termo a eles.

« As forças internacionais são muito solicitadas - em parte porque a MINUSCA carece de vários milhares de soldados em relação ao seu efetivo previsto - e não foram capazes de prevenir a escalada da violência na região central deste país », acrescenta o comunicado da Amnistia Internacional.

-0- PANA MLJ/VAO/FJG/BEH/IBA/FK/TON 06nov2014