Agência Panafricana de Notícias

Coligação de ONG defende mais sanções contra violadores do acordo de paz no Sudão

Dar-es-Salaam, Tanzânia (PANA) – A alguns dias da independência do Sudão Sul, a 9 de julho próximo, o Sudão está mais à beira da guerra, uma situação nunca registada desde a assinatura do Acordo de Paz Global (CPA) entre o norte e o Sudão Sul em janeiro de 2005, segundo a coligação global de Organizações Não Governamentais (ONG).

Num novo relatório divulgado esta sexta-feira e intitulado « Além da Promessa : Compromisso Internacional após o Acordo Global de Paz no Sudão », uma coligação de 22 ONG do Sudão, de outros países africanos, do Médio Oriente, da Europa e dos Estados Unidos, adverte da eclosão duma guerra total entre o norte e Sudão Sul, contanto que a comunidade internacional adote uma estratégia de compromisso que inclua sanções direcionadas.

« Contanto que a comunidade aja rapidamente para fazer cessar o conflito ao longo da fronteira, poderemos mergulhar-nos numa guerra total. Recuámos muito mais desde os dias sangrentos da guerra civil mas não poderemos perder tudo. O apoio da comunidade internacional permitiu-nos encontrar a paz, hoje precisamos duma ajuda de emergência para a preservar », declarou David De Dau, diretor da Agência para a Imprensa Independente e membro sudanês desta coligação.

« A comunidade internacional deve reajustar as suas relações com o Norte e o Sudão Sul. Para o Norte, isto significa manter a pressão sobre o Governo para permitir verdadeiras reformas políticas e pôr termo ao conflito na província ocidental sudanesa de Darfur. Para o Sul, isto quer dizer aumentar a crítica internacional da corrupção e da perseguição contra militantes dos direitos humanos », afirmou o presidente da Genocide Intervention Network/Save Darfur Coalition, Tom Andrews.

O relatório sublinha como, enquanto os líderes do nortes e do sul estão a agitar-se para reforçar as suas posições antes da divisão do Sudão em duas partes, a violência entre os dois campos agravou-se de forma alarmante: recentes ataques militares ocorridos ao longo da fronteira em Abyei e em Kordofan Sul tiveram um impacto sobre os civis, levando mais de 174 mil pessoas a fugirem e afetando ao mesmo tempo um milhão 400 mil outras.

Segundo a coligação das ONG, entre janeiro e meados de maio de 2011, mais 117 mil pessoas foram deslocadas e cerca de mil 400 morreram unicamente no Sudão Sul, mais do que durante todo o ano de 2010.

Em Darfur, cerca de 70 mil pessoas foram deslocadas entre dezembro de 2010 e março de 2011, houve pelo menos 80 ataques aéreos do Governo contra as populações civis de janeiro a abril de 2011.

« Não se deve deixar as reformas democráticas desaparecer da agenda do Sudão. Enquanto o mundo árabe se bate pela sua liberdade, a opressão e as violações dos direitos humanos no Sudão Norte continuam de forma descontrolada », observou Osman Hummaida, militante sudanês dos direitos humanos e diretor do African Centre for Justice and Peace Studies.

« E no Sul, a má governação, e o autoritarismo intensificam-se. A oportunidade de ajudar o povo do Sul deslizará entre as mãos da comunidade internacional a menos que se ponha termo a esta situação a partir de agora », acrescentou.

O relatório exorta a comunidade internacional a reforçar o seu compromisso para com o Sudão face à agressão militar em ambos lados, ao impor uma zona desmilitarizada e ao desdobrar soldados de manutenção da paz ao longo da fronteira.

Além disso, ele sugere o aumento das sanções direcionadas pela União Europeia (UE) e outros, nomeadamente a proibição de viajar e o congelamento de bens dos responsáveis pela violência; a supressão do perdão da dívida; a suspensão da normalização das relações diplomáticas com os Estados Unidos.

O relatório recomenda também que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) mandate e desdobre uma operação de manutenção da paz que substitua a Missão das Nações Unidas no Sudão (UNMIS) que faz da proteção dos civis uma prioridade absoluta.

-0- PANA AR/SEG/NFB/JSG/FK/DD 01julho011