Agência Panafricana de Notícias

Chefes de Estado estrangeiros “boicotam” exéquias de Nino Vieira

Bissau- Guiné-Bissau (PANA) -- O Presidente senegalês, Abdoulaye Wade, era até esta segunda-feira a única presença confirmada de um chefe de Estado estrangeiro nas exéquias do malogrado Presidente João Bernardo “Nino” Vieira da Guiné-Bissau, marcadas para a manhã de terça-feira, soube a PANA em Bissau junto da Comissão Nacional Organizadora da cerimónia.
O Presidente Wade é aguardado em Bissau na manhã de terça-feira, a menos de uma hora do funeral, num voo que, segundo familiares do falecido, deve também transportar para a capital bissau-guineense alguns dos filhos de Nino Vieira provenientes da Europa onde a maioria reside.
Desconhece-se as razões desta “escassez” de chefes de Estado estrangeiros na cerimónia, mas fonte diplomática contactada pela PANA disse acreditar que este “boicote” estaria aparentemente associado a questões de segurança dada a instabilidade vivida no país que ficou evidenciada pela facilidade e impunidade com que se eliminou o Presidente Nino Vieira.
A mesma fonte admitiu igualmente a possibilidade de alguns entre os líderes africanos quererem, com esta atitude, manifestar o seu protesto ou indignação pela forma bárbara e repugnante como o Presidente Nino Vieira foi assassinado na sua residência onde, segundo ainda a família do defunto, o seu corpo foi encontrado esquartejado à catana, com os intestinos de fora e a cabeça amarfanhada aparentemente à coronhada.
Uma equipa de cinco médicos legistas contratados pela família a partir de Dakar, no vizinho Senegal, para se ocupar do corpo que repousa actualmente na morgue do Hospital Nacional Simão Mendes foi- lhes negada a entrada em Bissau onde as autoridades aeroportuárias alegaram falta de “autorização superior”, sendo forçados a voltar à procedência, segundo a mesma fonte.
Entre as delegações estrangeiras confirmadas para segunda-feira, em Bissau, para as exéquias de Nino Vieira estão as de Angola, Argélia, Gâmbia, São Tomé e Príncipe, Índia, Itália e Japão que deverão juntar-se a várias outras que se já encontram no terreno desde o fim- de-semana.
A comitiva angolana é encabeçada pelo primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional (Parlamento), João Lourenço, em representação do Presidente José Eduardo dos Santos, actualmente em digressão pela Europa com passagens pela Alemanha e por Portugal.
Por seu turno, a Argélia, a Índia, o Japão e Itália far-se-ão representar pelos seus embaixadores acreditados na Guiné-Bissau mas residentes em Dakar, Senegal, à semelhança de outros países como Canadá, Reino Unido, Estados Unidos e Cabo Verde, embora, para este último, seja “provável mas não confirmada” a vinda do primeiro- ministro José Maria Neves.
Também a África do Sul, os Países Baixos, a Alemanha e a Venezuela estarão representados a nível de embaixadores, ao passo que a Guiné- Conakry despachou para a capital bissau-guineense o seu primeiro- ministro Kabiné Komara, e a Gâmbia enviou uma delegação ministerial liderada pelo ministro da Administração Territorial, Ismaila Sambou.
Estarão igualmente presentes representantes de várias organizações internacionais, nomeadamente a União Africana (UA), a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a União Económica e Monetária Oeste-Africana (UEMOA), o Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO) e a Comunidade dos Estados Sahelo-Sarianos (CEN-SAD), entre outras.
A cerimónia fúnebre de Nino Vieira, cruelmente abatido a 2 de Março corrente por militares ainda não identificados, foi precedida domingo por uma outra do tenente-general Tagmé Na Waié, chefe do Estado- Maior-General das Forças Armadas da Guiné-Bissau assassinado, também misteriosamente, na véspera da morte do primeiro.
O inquérito para determinar as responsabilidades por este duplo assassínio está a cargo de uma comissão criada pelo Governo integrando elementos do Ministério Público, da Polícia Judiciária e do Tribunal Militar, mas uma outra criada pelos militares está a ocupar-se especificamente da morte de Tagmé Na Waié.