Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde utiliza água residual e dessalinizada na agricultura

Praia, Cabo Verde (PANA) – Cabo Verde vai implementar, ainda este ano, um projeto para a mobilização de água para agricultura “através da utilização da água residual tratada e da água salobra dessalinizada”, apurou a PANA de fonte oficial, na cidade da Praia.

Para o efeito, o país conta com um financiamento de 35 milhões de euros, a ser obtido junto do Eximbank Hungary, segundo a mesma fonte.

O projeto será implementado pela empresa estatal Água de Rega, recentemente constituída, tendo o Governo autorizado a Direção-Geral do Tesouro a “conceder um aval/garantia” junto desse banco estatal da Hungria que fomenta as exportações e importações deste país europeu.

De acordo com um documento governamental sobre as suas prioridades para 2020, o projeto visa sobretudo “municípios em que já foram construídas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) e que já estão em funcionamento".

Trata-se dos municípios da Praia, da Santa Catarina, Sda anta Cruz, do Tarrafal, de São Miguel [ilha de Santiago], de São Vicente, Sal (Espargos), da Boa Vista e do Maio.

Este projeto envolve a construção das infraestruturas e a aquisição de equipamentos, como condutas de adução, estações elevatórias, reservatórios, condutas de distribuição e a instalação de 20 centrais de dessalinizadoras em “zonas próximas de parcelas agrícolas” já identificadas, além de formação e assistência técnica.

“Com isso pretende-se aumentar a disponibilidade da água para o setor da agricultura a um preço mais reduzido, de forma a tornar o setor mais competitivo e aumentando a sua cadeia de valor no processo produtivo em Cabo Verde”, refere a resolução.

Cabo Verde enfrenta uma das secas mais severas da sua história, com várias ilhas praticamente sem precipitação, nos últimos três anos, provocando fortes quebras na produção agrícola do arquipélago.

A médio e longo prazos, segundo o Governo, as intervenções nesta área “visarão a profissionalização da gestão da água, da proteção dos pontos de água e do armazenamento da água a nível individual ou comunitário”.

“Qualquer intervenção ligada aos solos, às encostas e aos habitats será precedida de um estudo técnico e de viabilidade económica e financeira” para “melhor orientar qualquer decisão política no setor”, acrescenta o documento.

Com estas ações, o Executivo prevê que será possível a gestão de novas bacias hidrográficas ou a reabilitação de outras existentes, “através de intervenções apropriadas, eficazes e duráveis, visando a melhoria das condições socioeconómicas das comunidades rurais”.

O Governo declarou, em janeiro, a situação de emergência hídrica em todo o país, até outubro, devido à seca acumulada nos últimos anos, admitindo neste período limitações temporárias ao consumo de água.

A decisão foi então justificada com as “circunstâncias que o país enfrenta de extrema escassez de chuva” desde 2017, com “impactos diretos na saúde, na agricultura e na economia”.

“Considerando que os volumes precipitados não tiveram recuperação no volume de água armazenado nos principais reservatórios do país e que a disponibilidade de água nessas infraestruturas não foi satisfatória”, justifica-se ainda no texto da resolução que declarou a emergência.

O documento refere igualmente que o “nível da disponibilidade hídrica subterrânea estimado se encontra abaixo do valor indicativo praticado pelas Nações Unidas, o que coloca o país numa situação de emergência hídrica”.

Considera ainda que a “irregularidade da precipitação, em Cabo Verde, é agravada com situações frequentes de escassez hídrica para o consumo humano e uso na agricultura, o que justifica a necessidade urgente de adoção de medidas que permitem uma gestão adequada da água”.

-0- PANA CS/IZ 28julho2020