Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde sem capacidade para fazer diagnóstico do coronavírus, diz responsável sanitário

Praia, Cabo Verde (PANA) – Cabo verde não tem capacidade para fazer um diagnóstico do coronavírus, pelo que, perante casos suspeitos, amostras para análises de confirmação ou não de que a pessoa está infetada com o vírus serão encaminhadas para o Instituto Pasteur de Dakar, no Senegal, ou para o Instituto Ricardo Jorge, em Portugal, anunciou quarta-feira na cidade da Praia o diretor nacional de Salde de Cabo Verde, Artur Correia.

No entanto, Artur Correia, que falava durante uma conferência de imprensa para fazer o ponto da situação e do acompanhamento do surto de coronavírus na China, adiantou que, "neste momento, as condições já estão criadas para que as amostras sejam encaminhadas para os referidos laboratórios referenciados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para proceder a este tipo de analises.

Afirmou que das 20 pessoas provenientes da China, que já chegaram a Cabo Verde, “nenhuma apresenta sintomas suspeitos”,  garantiu no entanto que caso haja algum caso suspeito será tomado um conjunto de medidas.

Enquanto isto, uma equipa técnica de intervenção rápida, já criada para o efeito, está a analisar diferentes cenários, deu a conhecer.

“Estamos a falar da gestão do risco de preparação para a epidemia. Quando a gente diz que estamos na fase de preparação para a resposta, todas as recomendações internacionais da OMS e a nossa experiência estão a ser cumpridas. Estamos a fazer de tudo para que dê certo e que o país, juntamente como todos, esteja preparado, sendo que o vírus não respeita ninguém e já chegou há vários países que tem iminentes especialistas em várias matérias”, disse.

Artur Correia assegurou que a prevenção tem de ser preparada nesta perspetiva de movimentação e da aldeia global que é Cabo Verde, e que o país tem de estar “minimamente preparado” para responder.

Adiantou que, neste preciso momento, Cabo Verde está “em estado de emergência” e que todos os serviços da rede pública de saúde estão em alerta, com a equipa técnica de intervenção rápida com normas técnicas, e estão “conetados e sintonizados” com os aeroportos internacionais do país, designadamente na cidade da Praia, nas ilhas do Sal, São Vicente e Boa Vista.

Por outro lado, o responsável disse que já foram tomadas medidas no sentido de dotar todas as estruturas de saúde de equipamentos e materiais necessários para os próximos seis meses.

“Acionamos e já está em funcionamento uma linha telefónica nacional única, o 8001112, em parceria com a Proteção Civil, para apoiar nesta primeira fase a todos os que regressaram da China, quer estudantes quer Chineses”, sublinhou, frisando que o serviço será prestado também nas delegacias de Saúde, diariamente, em cada conselho.

Disse igualmente que o Governo tem estado em contacto permanente com a embaixada cabo-verdiana na China para se informar sobre quais e quantas pessoas é que vão regressar ao arquipélago, exceto aquelas que se encontram na cidade Wuhan, o epicentro da epidemia.

Apelou aos estudantes, aos Chineses e a familiares que regressaram para “cumprirem rigorosamente” as recomendações das autoridades sanitárias e respeitarem as normas de proteção e restrição social ao nível domiciliário.

No entanto, quinta-feira última, o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), principal força da oposição no país, fez uma declaração no Parlamento para chamar a atenção das autoridades sobre a  necessidade de se impor "acões concertadas, multidisciplinares e com um elevado sentido de responsabilidade” para preparar o país principalmente para a prevenção, sem descurar outras acões de mobilização de recursos técnicos, humanos e materiais para uma “eventual indesejada” importação da doença, como, aliás, outros países estão a fazer.

No entender do PAICV, as autoridades devem procurar cumprir as recomendações da OMS no sentido de elaborarem e aplicarem medidas preventivas com planos de contingência adaptadas às avaliações locais de risco, cooperarem e coordenarem principalmente nos domínios dos recursos humanos e materiais, bem como disponibilizarem fundos necessários para o combate à epidemia.

“Aqui no país, temos assistido a declarações públicas de vários atores com responsabilidades no setor da saúde, infelizmente nem sempre articuladas e consertadas, o que pode não ser muito bom para momentos como o que estamos a vivenciar”, criticou a deputada Ana Paula Santos, que leu uma declaração politica em nome da bancada do principal partido da oposição no Parlamento cabo-verdiano.

A preocupação em relação as medidas que vêm sendo tomadas para se fazer face a um eventual surgimento de casos de coronavírus em Cabo Verde foi também manifestada pelo presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, oposição),  com três assentos parlamentares, António Monteiro, que questionou o ministro da Saúde se os Cabo-verdianos não correm o risco de contrair a doença caso algumas das pessoas que regressaram da China estejam infetados com o vírus.

Neste sentido, ele pediu ao Governo para ter em atenção as pessoas que viajam daquela parte do globo para Cabo Verde e, acima de tudo, nos portos e aeroportos, bem como para a questão de quarentena das pessoas, porque, como disse, “ainda ontem vi um vídeo de uma estudante que penso que veio desta parte do globo onde mostrava a sua insatisfação em estar de quarentena em casa”.

Na opinião deste parlamentar, enquanto  ainda não se tem conhecimento se as pessoas estão ou não infetadas, caso elas venham a contrair a doença, isso pode vir a criar um grave perigo de saúde publica.

Por sua vez, o deputado do Movimento para a Democracia (MpD, partido no poder), Orlando Dias, reconheceu que se trata de um assunto que requer a união do MpD, do PAICV e da UCID, em que “todos devem engajar-se para prevenir uma eventual entrada do coronavírus em Cabo Verde” e dar o seu contributo para uma “maior prevenção”.

Na ocasião, o ministro da Saúde e Segurança Social, Arlindo do Rosário, assegurou que o Governo está a implementar “uma série de medidas de prevenção” e que vai “fazer de tudo no sentido de enfrentar o surto”.

Em relação aos cidadãos provenientes da China, que não se encontram em quarentena, o governante explicou que os mesmos estão a ser acompanhados diariamente pelos serviços de saúde, conforme as recomendações da OMS.

“Em relação aos kits, já estão equacionados junto da OMS e do gabinete dos assuntos financeiros, e, para já, há a disponibilização dos equipamentos de proteção individual em todas as estruturas, encomendas de mais equipamentos”, indicou, acrescentando que foi criado um canal de comunicação único para uma melhor articulação e coordenação.

-0- PANA CS/DD 06fev2020