Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde regista disparidades de rendimentos entre sexos

Praia, Cabo Verde (PANA) – As disparidades de rendimentos e as oportunidades de inclusão económica entre os sexos persistem em Cabo Verde, onde há uma atenção insuficiente às especialidades de género no planeamento político, nos instrumentos de acompanhamento e avaliação existentes, indica um estudo elaborado pela Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED).

O estudo, intitulado "Quem Beneficia com a Liberalização do Comércio em Cabo Verde? Uma Perspetiva de Género" divulgado, terça-feira, na cidade da Praia, revela que, embora as mulheres cabo-verdianas desfrutem de plena igualdade de género perante a lei, existem diversas áreas nas quais elas estão em situação de desvantagem em comparação com os homens.

Elaborado em colaboração com o Governo cabo-verdiano, o estudo concluiu que, apesar dos "avanços significativos" na participação feminina em atividades educacionais e políticas, Cabo Verde ainda enfrenta "desafios derivados de costumes socioculturais arraigados", que se manifestam numa "estrutura de poder desigual entre os sexos".

De acordo com o estudo realizado pela CNUCED, para medir os impactos da liberalização do comércio na população feminina do país, as mulheres são os cidadãos cabo-verdianos que têm empregos menos qualificados e mais precários, além de, em média, beneficiarem de salários mais baixos, o que contribui para que as famílias por elas chefiadas sejam mais pobres.

Os dados apresentados indicam igualmente que os níveis de pobreza nos agregados matriarcais são, atualmente, de 33 porcento, enquanto nas famílias chefiadas por homens a percentagem desce para 21 porcento.

Outro dado que ressalta a incompatibilidade entre o nível de qualificação da população feminina e a sua colocação no mundo laboral é o facto de apenas 34 porcento dos efetivos que exercem cargos de liderança nas empresas serem mulheres.

A nível da alimentação, o estudo revela que a inflação atinge particularmente as famílias chefiadas por mulheres, as que, em regra, destinam uma fatia muito maior do que os homens para a compra de alimentos.

Em termos genéricos, a maior parte das mulheres trabalhadoras está no sector informal e tem uma fraca presença, particularmente na indústria.

Nos efeitos distributivos, segundo uma perspetiva de género e de localização, o estudo mostra que as remessas dos emigrantes são mais importantes para os agregados familiares chefiados por mulheres do que para os liderados por homens.

Segundo o documento, as conclusões são de "importância capital", pois deixam à mostra os efeitos menos patentes da trajetória ascendente dos preços alimentares dentro da sociedade, e ajudam a melhor definir e sintonizar as políticas para um "desenvolvimento social inclusivo".

As conclusões do estudo apontam, igualmente, para a necessidade de preservar e promover a capacidade doméstica na produção de alimentos básicos, de modo a atenuar a exposição de Cabo Verde à acentuada volatilidade dos mercados internacionais.

A nível do turismo, o estudo mostrou que a expansão do setor do comércio em maior escala como a dos hotéis e restaurantes teria um efeito positivo nos rendimentos dos agregados familiares chefiados por mulheres.

Com este estudo pretende-se "trazer à luz" os efeitos diferenciados das políticas comerciais sobre homens e mulheres em Cabo Verde, sobretudo no que diz respeito às políticas voltadas para a liberalização e facilitação do comércio.

Este trabalho é parte integrante de uma série de estudos de caso realizado pela CNUCED em seis países, nomeadamente Angola, Butão, Cabo Verde, Lesoto, Rwanda e Uruguai.

-0- PANA CS 12set2012