Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde não tem "polícia política" para investigar pessoas, diz PM

Praia, Cabo Verde (PANA) - O primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou, quarta-feira, no Parlamento, que a conotação de um cônsul honorário na Florida, nos Estados Unidos, associado à extrema-direita portuguesa não foi detetada porque o país não tem "polícia política" para investigar preferências político-partidárias de outras pessoas, apurou a PANA de fonte segura.

Ulisses Correi e Silva deu esta explicação quando intervinha num debate parlamentar mensal, subordinado ao tema "Política externa de Cabo Verde."

Durante o debate, o chefe do Governo cabo-verdiano litigou com a oposição sobre a nomeação dum cidadão português, Caesar DePaco, também com nacionalidade norte-americana,  para o cargo de cônsul honorário de Cabo Verde na Florida, nos Estados Unidos.

DePaco é tido como financiador do partido português Chega, de extrema direita, referiu-se.

"Os procedimentos foram cumpridos, por parte de Cabo Verde, e os Estados Unidos, precisamente o seu Departamento de Estado, confirmaram. Requisitos estavam  a ser cumpridos, o que não se sabia, porque, como eu disse e repito, não fizemos e não temos este aparelho de polícia política para investigar  preferências político-partidárias das pessoas. Não temos isto, em Cabo Verde. Isso acabou em 1991", reagiu o chefe do Governo cabo-verdiano.

Este caso, revelado pela imprensa portuguesa, levou, neste mês, à demissão do ministro dos Negócios Estrangeiros e Defesa Nacional, Luís Filipe Tavares, substituído pelo até então ministro da Integração Regional, Rui Figueiredo Soares.  

O primeiro-ministro cabo-verdiano confirmou que aquele cidadão já foi afastado das funções, insistindo em dizer que todos os procedimentos foram cumpridos aquando da sua nomeação.

Entretanto, Ulisses Correia e Silva acusou a oposição de assumir uma atitude "antipatriótica" ao conotar o Governo à extrema-direita, na polémica que envolve a nomeação de um cônsul honorário associado ao partido português Chega.

"Cabo Verde é um país respeitado no mundo pela sua credibilidade externa, assente no Estado de direito democrático, na estabilidade, paz social, segurança, boa governação e resiliência. São estes ativos que distinguem Cabo Verde no concerto das nações", defendeu.

Com eleições legislativas agendadas para 18 de abril próximo, e o país já em clima de pré-campanha eleitoral, Ulisses Correia e Silva, também presidente do Movimento para a Democracia (MpD, partido no poder, desde 2016), acusou a oposição, nomeadamente o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) , que associou o MpD e o Governo à extrema-direita, de pôr em causa os "ativos" externos de Cabo Verde.

Para ele, Cabo Verde é um país mais livre de África, a terceira democracia em África, o segundo país com melhor governação em África e a terceira posição no ranking de perceção de corrupção em África.

Por sua vez, a presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, responsabilizou Ulisses Correia e Silva por "vários episódios" que, disse, põem em causa a imagem externa do país.

A líder da oposição classificou o caso concernente ao cônsul honorário na Florida como um "escândalo que abanou o país", frisando que a responsabilidade é do Governo e não apenas de um ministro (Luís Filipe Tavares, que pediu a demissão.

"Queremos perguntar-lhe (primeiro-ministro) o que tem norteado o seu Governo quando nomeia um cônsul honorário e, se não o perturba, como Africano e como Cabo-verdiano, nomear alguém que supostamente financia um partido da extrema-direita, cuja ideologia é claramente segregacionista e, portanto, contra Africanos e Cabo-verdianos", apontou Janira Hopffer Almada.

-0- PANA CS/DD 27jan2021