Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde implementa segunda fase de projeto de conservação de aves marinhas

Praia, Cabo Verde (PANA) – Cabo Verde  implementará, a partir de março próximo, uma segunda fase do projeto de conservação das suas aves marinhas, durante três anos, apurou a PANA de fonte segura.

Em declarações à agencia cabo-verdiana de noticias (Inforpress), o especialista e professor de Zoologia da Universidade de Barcelona, Jacob Salvatore Gonzalez, responsável pelo projeto, explicou que a segunda fase vai ajudar a completar as tarefas e os resultados obtidos na primeira fase, ocorrida há três anos.

À semelhança da primeira, a segunda fase vai abranger todas as ilhas e ilhéus de Cabo Verde onde aves marinhas se reproduzem, de Santo Antão a Brava, segundo o especialista.

Envolverá, além das universidades de Barcelona (Espanha) e Coimbra (Portugal), várias instituições nacionais ligadas ao setor do ambiente, como Biosfera, BiosCV, Fundação Maio Biodiversidade, Projeto Vito (Fogo, Brava e ilhéus Rombos), entre outras áreas, disse.

Ao analisar os resultados obtidos na primeira fase, Jacob Salvatore Gonzalez, destacou o trabalho realizado com o Gon-gon, uma espécie endémica de ave marinha de Cabo Verde mais ameaçada.

Quando o empreendimento se iniciou, há três anos, mal se conheciam os locais de reprodução com poucos ninhos na ilha do Fogo e nenhum ninho nas demais ilhas, disse Jacob Gonzalez.

Frisou que, atualmente, só na ilha do Fogo foram identificados cerca de 60 ninhos de Gon-gon, o que, a seu ver, representa uma grande mudança e um aumento do conhecimento importante para esta espécie para gerir melhor as ameaças, evitando a sua extinção.

Um dos trabalhos realizados ao longo destes anos relaciona-se com a demografia de Gon-gon para compreender a tendência da sua população.

O resultado indica que a população desta espécie está a diminuir por causa das diferentes ameaças.

A depredação por gatos constitui a ameaça mais importante e foram encontrados muitos Gon-gons mortos por eles, lamentou o especialista, salientando que outro problema importante são os ratos que atacam, sobretudo, os ovos e/ou os filhotes  vulneráveis.

O fator humano constitui um outro problema e ameaça a esta espécie, porque, explicou, “infelizmente ainda o Gon-gon está a ser perseguido pelo homem, que continua a apanhá-lo para suposto remédio”, apesar de “não corresponder à verdade e não fazer nenhum sentido”, e, noutros casos, para comer.

Outra ameaça importante é a poluição luminosa já que esta espécie é muito sensível a luz e não reproduz nos locais com muita luz à noite, acrescentou.

Jacob Gonzalez disse que o desenvolvimento de Cabo Verde é acompanhado pela poluição luminosa com candeeiros nas estradas e que esta situação está a afetar o Gon-gon.

Defendeu que, num raio de dois quilómetros, nas zonas de reprodução não devia ter muitas luzes para se evitar a perda da sua população.

O projeto, na primeira fase, realizou uma campanha de castração de gatos, colocou armadilhas nas proximidades dos ninhos de Gon-gons para diminuir a depredação.

Promoveu uma campanha de sensibilização e consciencialização da população, em comunidades e escolas, à importância de preservar esta espécie endémica, assim como o seu valor para Cabo Verde e as razões da sua preservação, disse.

Além de Gon-gon, concluiu o especialista, o projeto trabalha também com outras espécies de aves marinhas em Cabo Verde.

Financiada pela Fundação MAVA, sediada na Suíça e coordenado pela “Bird Life international”, uma organização ambiental cujos objectivos são a conservação e a proteção da biodiversidade de aves e de seus habitats, a primeira fase terminou a 31 de dezembro último, com a mesma duração.

O objetivo foi a capacitação de vários técnicos dos parques naturais e das instituições parceiras, no apoio a estudantes cabo-verdianos que frequentaram a Universidade de Barcelona, na Espanha.

A implementação da primeira fase permitiu ainda um maior conhecimento cientifico de Gon-gon (Pterodroma feae), da área de reprodução e das principais ameaças a esta espécie endémica do arquipelago.

-0- PANA CS/DD 13jan2020