Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde com saldo de 133 milhões de euros nas contas externas

Praia, Cabo Verde (PANA) – As contas externas de Cabo Verde tiveram um saldo positivo de 133 milhões de euros, em 2019, de acordo com um relatório de Política Monetária do Banco de Cabo Verde (BCV).

De acordo com o documento, publicado pelo BCV segunda-feira última, este saldo determinou um aumento do estoque das reservas internacionais líquidas de Cabo Verde para 661 milhões de euros, o que corresponde a 6,9 meses de importações de bens e serviços.

O relatório indica que este desempenho se deve à melhoria da balança corrente, reflexo sobretudo do aumento das exportações de serviços e das transferências dos emigrantes e oficiais, numa conjuntura de redução dos preços das mercadorias importadas.

De acordo com a mesma fonte, o excedente da balança de serviços cresceu 26 por cento em 2019, impulsionado pela expansão das exportações de transporte aéreo (em 37 por cento) e de viagens (oito por cento), associadas aos resultados da política comercial da companhia aérea nacional, que dissiparam os efeitos das irregularidades operacionais ocorridas no segundo semestre de 2018.

A este resultado positivo associa-se igualmente a dinâmica da procura turística e de eventos desportivos e políticos regionais realizados no país.

O relatório do BCV dá conta, igualmente, que as remessas dos emigrantes cresceram cerca sete por cento em 2019, contra o crescimento três por cento do ano anterior.

Esta evolução, sustenta, é explicada pelo crescimento das transferências em divisas dos Estados Unidos (em 18,6 por cento), da França (10,5 por cento) e de Portugal (6,7 por cento), que “são países que acolhem a maioria dos emigrantes cabo-verdianos e cujos mercados de trabalho registaram melhorias consistentes nos últimos anos”.

“A apreciação do dólar face ao euro e o contexto de mais um ano de seca terá também contribuído para o aumento das remessas”, lê-se no dcumento que realça que os donativos aos governos central e locais, por seu turno, cresceram cerca de 26 por cento em 2019, recuperando de uma queda de 19 por cento, em larga medida, “resultado da duplicação da ajuda orçamental da União Europeia.”

Conforme o banco central, a balança de rendimento primário também contribuiu positivamente para a melhoria da balança corrente no ano passado, ao registar uma redução dos juros pagos pelos bancos por seus passivos externos (maioritariamente constituídos por depósitos dos emigrantes, cuja remuneração vem reduzindo-se continuamente) ”.

Contribuiu ainda para um aumento da rendibilidade das reservas internacionais líquidas, uma conjuntura de reforço, pelo banco central, de investimentos em títulos governamentais, em euro e dólar, e em depósitos a prazo, em dólares.

No entanto, de acordo com o relatório, a balança de bens deteriorou-se, comparativamente a 2018, pese embora ao abrandamento do ritmo de crescimento das importações de bens de 8,5 para 2,3 por cento.

“A redução das exportações de mercadorias (pescado, principalmente) na ordem dos 13 por cento (o que se compara ao aumento de 44 por cento em 2018) e a moderação das reexportações de combustíveis e víveres nos portos e aeroportos do país (cresceram oito por cento, o que se compara ao crescimento de 36 por cento de 2018) foram determinantes para o agravamento do défice da balança de bens”, explica a fonte.

Na balança financeira registou-se um aumento de quatro por cento dos influxos líquidos de financiamento da economia, impulsionado principalmente por desembolsos extraordinários de ajuda orçamental pelo Banco Mundial e pelo Banco Africano de Desenvolvimento, no montante aproximado de 35 milhões de euros.

“Os influxos de investimento direto estrangeiro (investimentos de estrangeiros em Cabo Verde subtraídos de investimentos de Cabo-verdianos no exterior) reduziram-se cerca de oito por cento (tinham diminuido sete por cento em 2018), devido a desinvestimentos de promotores estrangeiros em empresas com participação do Estado”, avança o documento.

Acrescentou que, excluindo os desinvestimentos, os influxos de investimento direto estrangeiro em Cabo Verde cresceriam cerca de 25 por cento.

O BCV aponta também que o capital externo investido no país, em 2019, destinou-se maioritariamente à construção de empreendimentos turísticos nas ilhas do Sal, de São Vicente e da Boa Vista.

De acordo com o relatório, o melhor desempenho da balança de pagamentos traduziu-se na melhoria da posição deficitária de investimento internacional do país, de 154 para 146 por cento do PIB Produto Interno Bruto)”.

De acordo com o relatório, o aumento do estoque de ativos de reserva (reservas internacionais líquidas do país) foi duas vezes superior ao aumento de estoque dos passivos geradores de dívida (empréstimos contratados junto ao exterior, sobretudo pelo Estado), limitando a deterioração da posição financeira do país face ao exterior, em termos absolutos, a dois mil 83 milhões de escudos (cerca de 189 milhões de euros).

-0- PANA CS/DD 28abril2020