Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde acompanha investigações sobre empresária Isabel dos Santos

 

 

 

Praia, Cabo Verde (PANA) – As principais autoridades cabo-verdianas garantiram, segunda-feira, que estão a acompanhar as investigações em curso sobre a origem da fortuna da empresaria angolana, Isabel do Santos, a principal acionista da segunda maior empresa das telecomunicações em Cabo Verde, a Unitel T+, declarou terça-feira o chefe do Estado cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, na cidade da Praia.

No final da cerimónia de deposição de coroa de flores no monumento a Amílcar Cabral, na cidade da Praia, por ocasião da celebração do dia 20 de janeiro corrente, Dia dos Heróis Nacionais, o Presidente Fonseca, como o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, escusaram-se a comentar o caso que envolve a filha do antigo Presidente angolano, Jose Eduardo dos Santos, revelado pelo Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ).

Publicados a 19 de janeiro corrente, os factos consistem em mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de “Luanda Leaks”, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que estarão na origem da fortuna da família.

“A gente vai ouvindo as notícias. Claro que nos interessa porque têm a ver com um país muito próximo e irmão que é Angola, mas, naturalmente, o Presidente da República não pode estar a comentar notícias que têm a ver com fortunas ou com bens de uma cidadã angolana, mas vamos acompanhando”, disse.

Por sua vez, o primeiro-ministro cabo-verdiano disse que se trata de uma matéria que está sob investigação e que não é algo que interpela o Governo de Cabo Verde.

“Eu não faço comentários porque este é um trabalho de investigadores. É algo que tem a ver com Angola e não com o Governo de Cabo Verde. Nós vamos acompanhando de uma forma interessada aquilo que se está a avançar. Não tem a ver com Cabo Verde diretamente, tem a ver com investimentos que ela tem em várias partes do mundo”, precisou.

Das 400 empresas e respetivas subsidiárias que formam o império construído por Isabel dos Santos ao longo dos anos, três estão localizadas em Cabo Verde e foram mencionadas pelo ICIJ, que investigou com base no 'Luanda Leaks', um dossier de 356 gigabytes de dados relativos aos negócios da filha do ex-Presidente dos Santos, entre 1980 e 2018, e que ajudam a reconstruir o caminho que levou Isabel dos Santos a tornar-se na mulher mais rica de África.

Durante a visita que efetuou a Cabo Verde em outubro último, a empresaria angolana disse, na cidade da Praia, ter investido cerca de 100 milhões de euros nos últimos anos na economia cabo-verdiana, primeiro nas telecomunicações e, depois, nas finanças.

Também afirmou que está a preparar um investimento na economia digital do arquipélago, um setor prioritário para o Governo cabo-verdiano.

Há três anos, Isabel dos Santos tinha admitido em entrevista ao jornal português "Público", ter contraído sete empréstimos na Unitel SA, entre maio de 2012 e agosto de 2013, para investir, adquirir o capital da Unitel em Cabo Verde e transformá-lo na Unitel T+ (35 milhões).

De acordo com documentos publicados pelo ICIJ, Isabel dos Santos detém ainda participação maioritária no banco BIC Cabo Verde, instituição financeira internacional.

A empresaria angolana entra no capital deste banco por via da Sidemore Holdings Limited, sociedade sedeada nas Ilhas Virgens Britânicas e detida a 100 por cento por ela, conforme revelam os documentos obtidos pelo ICIJ e relativos ao BIC Cabo Verde.

A investigação não se refere, todavia, a qualquer transação ilegal feita através deste banco.

No arquipélago cabo-verdiano, Isabel dos Santos é dona a 100 por cento da Espaços Cabo Verde Lda., uma sociedade unipessoal virada para o consumo de luxo, com sede em Chã de Areia, na cidade da Praia, e da qual pouco se sabe.

Na sequência do mandado judicial de arresto das contas bancárias e das participações de Isabel dos Santos nas empresas onde é acionista, a Unitel T+ emitiu um comunicado a garantir que as medidas tomadas por Angola não põem em causa o funcionamento da operadora em Cabo Verde.

No comunicado, a operadora de telecomunicações lembra que "é uma empresa de direito cabo-verdiano, licenciada no mercado desde 2007 e tem como estrutura acionista a Unitel Internacional Holdings B.V.”.

A Unitel T+ esclarece ainda que, desde a sua implementação no país, tem desenvolvido projetos que visam a construção da Sociedade de Informação.

“Com investimentos de mais de 500 milhões de escudos (cerca de 4,6 milhões de euros) em recursos tecnológicos que permitem aos Cabo-verdianos, no país e na diáspora, acederem de forma universal e total à informação e ao conhecimento", acrescenta a nota.

-0- PANA CS/DD 21jan2020