Agência Panafricana de Notícias

BM denuncia corrupção discreta em África

Dar es Salaam- Tanzânia (PANA) -- A corrupção "discreta" que constitui a violação pelos funcionários do dever de fornecer bens ou serviços financiados pelas administrações públicas é omnipresente e frequente em África e tem efeitos desproporcionais sobre os pobres, com consequências a longo prazo para o desenvolvimento, denuncia um novo relatório do Banco Mundial (BM).
O relatório intitulado "Indicadores do Desenvolvimento de África de 2010", sublinha que a maioria dos estudos sobre a corrupção incluem os subornos ou as gratificações colossais recebidas por personalidades políticas influentes.
O documento concentra-se na maneira como a corrupção discreta dá uma percepção cada vez mais negativa dos sistemas de prestação dos serviços públicos e faz com que os cidadãos se afastem dele cada vez mais.
A corrupção discreta, embora de menor envergadura em termos monetários, é particularmente nociva para os mais desfavorecidos, que são mais vulneráveis e que dependem mais dos serviços governamentais e dos sistemas públicos para satisfazer as suas necessidadas mais elementares, segundo o relatório.
"A corrupção discreta não faz manchete nos jornais como os maiores escândalos de corrupção, mas ela é igualmente corrosiva para as sociedades", declarou a economista-chefe do Banco Mundial para África, Shanta Deverajan.
"Atacar a corrupção discreta vai necessitar uma associação de liderança, de políticas e de instituições sólidas e envolvidas a nível sectorial e sobretudo duma responsabilização acrescida e da participação dos cidadãos", acrescentou.
O relatório apresenta estatísticas e estudos sobre a corrupção discreta nos sectores da saúde, da educação e da agricultura.
Por exemplo, ele faz referência a um relatório de 2004 que mostra que 20 por cento dos professores nas escolas primárias do oeste do Quénia rural não estavam nos seus postos durante as horas de aula, ao passo que no Uganda dois estudos indicam que a taxa de absenteísmo dos docentes era de 27 por cento em 2002 e de 20 por cento em 2007.
O relatório sublinha que controlos insuficientes nos produtores e grossistas tiveram como consequência que 43 por cento dos fertilizantes analisados vendidos na África Ocidental nos anos 90 não continham os elementos nutritivos previstos, o que significa que eles eram praticamente ineficazes.
Por outro lado, mais de 50 por cento dos medicamentos vendidos nas farmácias da Nigéria nos anos 90 eram falsificados, segundo alguns estudos.
No quadro dum estudo que consiste numa observação directa dos pessoais de saúde ugandeses, foi constatada uma taxa de absenteísmo de 37 por cento em 2002 e de 22 por cento em 2003.
"Um dos aspectos mais prejudiciais da corrupção discreta é que ela pode ter consequências a longo prazo.
Uma criança privada duma educação adequada devido ao absenteísmo dos professores vai faltar na idade adulta de aptitudes cognitivas suficientes e não estará em boa saúde", deplora o documento.
Além dum estudo sobre a corrupção discreta, os Indicadores do Desenvolvimento de África fornecem dados mais pormenorizados sobre África com mais de 450 indicadores macroeconómicos, sectoriais e sociais que cobrem 53 países africanos.