Agência Panafricana de Notícias

Associação reclama legislação virada para o doente oncológico em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) – A Associação Cabo-verdiana da Luta Contra o Cancro (ACLCC) defendeu esta terça-feira, cidade da Praia, a necessidade de o país ser dotado de uma legislação virada para o doente oncológico, assim como a realização de campanhas de rastreio nacionais organizadas, soube-se de fontes seguras.

Em declarações à imprensa por ocasião do Dia Mundial de Luta contra o Cancro, que se assinala a 04 de fevereiro, o presidente da ACLCC, o doctor Henrique Vera Cruz, recordou que a associação apresentou, em tempos, uma proposta sobre a aprovação da referida legislação à Comissão Especializada de Saúde do Parlamento, que, no entanto, não foi adiante.

Henrique Vera Cruz disse acreditar que haja sensibilidade para que o país tenha uma lei nesta matéria e promete que a ACLCC vai continuar a desenvolver esforços com vista à aprovação de uma legislação específica sobre o cancro que já é a segunda causa de morte em Cabo Verde.

Segundo o presidente da ACLCC, essa lei consagraria os direitos dos doentes oncológicos, nomeadamente a abolição das taxas moderadoras quando recorrem aos serviços de saúde, como já se prática no Hospital Agostinho Neto, na cidade da Praia, a pedido da associação.

Henrique Vera Cruz aponta também a revisão das condições de trabalho e de aposentação dos doentes oncológicos, entre outros aspetos, como as prioridades da ação da ACLCC nos próximos tempos.

O presidente da associação defende ainda que Cabo Verde precisa de uma consciência nacional de luta contra esta pandemia, lembrando também que os cabo-verdianos têm um estilo de vida pouco saudável, já que são realizados “constantemente” eventos que promovem o consumo do álcool, uma das principais causas do surgimento de doença de foro oncológico.

“A educação da população e das instituições constitui um dos grandes trabalhos que temos para que a população participe efetivamente neste combate”, disse o presidente da ACLCC, para quem este engajamento deve ser por iniciativa própria ou ajudando as organizações que intervêm nesta matéria num “djunta mô” (unir esforços) para tornar mais eficaz a luta contra o cancro.

Do ponto de vista do Estado, este médico cirurgião reconhece há todo um trabalho de organização do rastreio para garantir o diagnóstico precoce, o tratamento atempado da doença e a melhoria das instalações e da oferta em termos de tratamentos no país aos doentes que têm de ser sujeitos à quimioterapia.

No entanto, o presidente da ACLCC considera urgente a introdução no país da radioterapia “como complemento essencial de grande parte dos tratamentos de cancro”.

Apesar das “inúmeras insuficiências”, Henrique Vera Cruz reconhece também que há ganhos “extremamente importantes” na luta contra o cancro em Cabo Verde, dentre os quais destacou a sensibilização da população para aceitar os cuidados, a criação de um serviço de oncologia e a disponibilidade dos medicamentos.

Estima-se que, em Cabo Verde, os principais cancros são, na mulher, os da mama, e do colo do útero, e no homem, os do tubo digestivo e da próstata. Embora sem dados fiáveis, presume-se que a baixa prevalência do tabagismo poderá justificar a fraca incidência do cancro do pulmão que é a principal causa de morte por cancro nos países desenvolvidos.

Desde 2004, as autoridades sanitárias têm demonstrado a preocupação de serem criadas, no país, as condições possíveis de diagnóstico precoce das doenças tumorais e o seguimento dos casos com tratamento iniciado no exterior. Nesse contexto foi criado um Serviço de Oncologia no Hospital Agostinho Neto e procedeu-se à revisão da Lista de Medicamentos essenciais para incluir os citostáticos.


-0- PANA CS/TON 04fev2013