Luanda, Angola (PANA) - O Presidente de Angola, João Lourenço, defendeu, terça-feira, em Luanda, a necessidade de se valorizar mais a paz e o processo de reconciliação nacional para a construção de uma sociedade mais inclusiva e com igualdade de oportunidades para todos os angolanos.
O chefe do Estado defendeu esta rese no seu discurso proferido no ato central das comemorações do 50.º aniversário da independência nacional, realizado na Praça da República, contígua ao Memorial Dr. António Agostinho Neto.
O chefe de Estado admitiu que “os desafios por resolver no país são enormes e de grande complexidade”, tendo, por essa razão, defendido a importância do foco em ações e iniciativas que contribuam para a solução dos problemas que, hoje, preocupam as populações.
Sobre este particular, João Lourenço disse que tudo está a ser feito para a resolução dos principais problemas com os quais o país ainda se debate.
“Estamos a dar passos firmes para romper o ciclo de subdesenvolvimento em que nos situamos”, declarou.
Entre as ações em curso para o alcance deste desiderato, o Presidente da República destacou as “apostas decisivas em infraestruturas de produção de energia elétrica, sem as quais será difícil industrializar o país, em alinhamento com as tecnologias mais modernas do mundo dos nossos dias.”
Fruto do investimento feito neste domínio, referiu que o país dispõe, neste momento, de uma produção de energia elétrica suficiente para as atuais necessidades, que se pretende levar a todos os cantos do território nacional, assim como vender aos países limítrofes.
“Temos procurado atrair investidores interessados na construção de linhas de transmissão e na comercialização de energia elétrica”, realçou.
Apelou aos angolanos para trabalharem juntos para a consolidação da economia nacional e o desenvolvimento económico e social do paísm sublinhando que este deve constituir o principal foco.
Mas, para tal, disse ser fundamental impedir que as disputas e querelas partidárias consumam grande parte do tempo e de energia dos angolanos.
No quadro do processo de desenvolvimento do país, o chefe do Estado referiu a importância de se fazer um grande investimento na educação e ensino, acelerar o processo de redução da taxa de analfabetismo, retirar ao máximo as crianças que, por diferentes razões, como carência de escolas, gravidez precoce e outras, se encontram fora do sistema de ensino.
“Precisamos, por isso, de construir mais infraestruturas escolares, mas, acima de tudo, investir mais na formação de formadores e de professores para todos os níveis de ensino”, frisou o Presidente da República.
Neste quesito, falou da importância do trabalho conjunto e da criação da consciência de que o progresso e o desenvolvimento não vêm apenas da ação dos governos, mas, sim, do esforço coletivo e conjugado de toda uma sociedade.
Apelou, por isso, a todos os angolanos a trabalharem para o fortalecimento do setor privado e cooperativo da economia nacional, com vista à diversificação da economia, ao aumento da oferta de bens e serviços, assim como ao aumento do leque de produtos e bens de exportação, e ao da oferta de emprego.
Recordando nessa ocasião, os momentos difíceis enfrentados pelo país durante os 50 anos de Independência, o chefe do Estado disse que, após o período de guerra, elegeu, como prioridade, a resolução dos principais problemas herdados deste conflito, no âmbito de uma definição de prioridades em que, além da reabilitação das principais infraestruturas fundamentais para o desenvolvimento, destacaram-se também o combate à fome, pobreza e desigualdades sociais, como centro de todos os esforços e atenções.
No quadro deste processo, o Presidente da República ressaltou que uma das prioridades passou pela resolução do problema de milhares de deslocados e refugiados, restituindo-lhes um mínimo de condições humanas de vida, para que acreditassem que a paz tinha valido a pena e que tinha chegado a hora de desarmar os espíritos e as mentes, para se dedicarem às tarefas do desenvolvimento.
Mencionou ainda a atenção dedicada pelo Governo ao setor da saúde nos últimos anos, com realce para a construção de infraestruturas hospitalares de alta categoria destinadas a atender um vasto leque de especialidades médicas e dotadas de equipamentos e tecnologias modernas.
Essas infraestruturas, referiu o Presidente da República, prestam um serviço melhor ao povo angolano.
João Lourenço disse que essa aposta no setor da Saúde contempla, também, a formação de mais especialistas nas escolas e universidades, e em instituições de referência mundial em outros países.
O estadista angolano deu a conhecer igualmente que o país está a fazer, com o apoio de parceiros internacionais, um grande esforço para a desminagem, com o fim de garantir a livre circulação de pessoas e bens, viabilizar o desenvolvimento de projetos agro-pecuários e a implantação de outros projetos de desenvolvimento económico e social.
A meta, frisou, é trabalhar para Angola ser declarada livre de minas nos próximos dois anos.
Além deste passo, disse que o país continua a trabalhar nas reformas para a melhoria contínua do ambiente de negócios, propício à atração do investimento direto estrangeiro, na diversificação da economia e no aumento da oferta de bens e serviços para o consumo doméstico e para a exportação.
“Tudo isso tem como objetivo garantir o bem-estar social das nossas populações, através de maior oferta de serviços sociais, como o acesso à escola, habitação, água, energia e assistência médica e medicamentosa”, ressaltou.
Aproveitou a ocasião para falar das várias realizações conseguidas, até aqui, pelo país, com destaque para o Corredor de Lobito (litoral centro), considerando-o um projeto de grande envergadura, devido ao alcance e benefícios que, disse, vão muito além das fronteiras angolanas.
João Lourenço informou que o Corredor de Lobito tem despertado um grande interesse internacional, por causa do “grande potencial” de oportunidades para a realização de negócios com parceiros e investidores estrangeiros a fim de alavancar o desenvolvimento de Angola e tornar a economia nacional mais robusta e mais capaz de responder às ingentes necessidades do país e da África Austral.
O Presidente da República disse estar projetado um conjunto “bastante” variado de empreendimentos naquela infraestrutura, que vão desde o transporte de mercadorias e minérios e o seu escoamento rápido a preços competitivos para o resto do mundo, passando pela agricultura, pelos serviços, até à criação de indústrias relevantes na região.
“O Corredor de Lobito é um pólo gigantesco de desenvolvimento que vai desempenhar um papel decisivo no conjunto das infraestruturas essenciais de interconexão em África, no quadro da operacionalização da Zona de Livre Comércio Continental Africano”, declarou.
A questão das mudanças climáticas é outro tema que mereceu destaque no discurso do Presidente da República.
João Lourenço ressaltou que Angola tem procurado contribuir com ações que ajudem a mitigar os efeitos nocivos que daí advêm, com especial destaque para a produção de energias limpas, que, a seu ver, constitui, atualmente, “a matriz fundamental da produção energética nacional.”
Por outro lado, voltou a advogar o fim da guerra contra a Ucrânia, a resolução do conflito no Médio Oriente, que conduzem ao cumprimento das resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a imperiosa necessidade da criação do Estado da Palestina.
Não se esqueceu da "situação volátil” nos países do Sahel, nomeadamente as guerras no Sudão e na República Democrática do Congo, que ameaçam balcanizar esses países, e que devem merecer, igualmente, toda a atenção.
Pronunciou-se, também, sobre os golpes de Estado e as mudanças inconstitucionais em África.
“Estamos muito preocupados com o recrudescimento e a proliferação de grupos terroristas em determinados pontos do nosso planeta, e de África em particular”, alarmou-se.
Afirmou que a “Organização das Nações Unidas está a revelar-se impotente para ajudar a impor a ordem e fazer face aos excessos das grandes potências.”
“Defendemos, firmemente, o multilateralismo, por ser o único modelo inclusivo e capaz de congregar todas as nações do nosso planeta à volta da abordagem dos grandes temas que afligem este mundo contemporâneo em que vivemos”, acentuou.
João Lourenço salientou que Angola tem uma sensibilidade muito especial para as questões da guerra, da paz e da liberdade e independência dos povos, por ter passado por essa experiência e por ter vivido várias décadas em conflito.
Disse ser por essa razão que o país se coloca, sempre, ao dispor dos países em conflito, para contribuir com a sua experiência para a resolução desses problemas, muitos dos quais de grande complexidade.
“Pautamos a nossa política externa pela necessidade do cumprimento dos princípios de não-agressão, da boa vizinhança, da resolução pacífica dos conflitos pela via negocial, do estrito cumprimento dos princípios da Carta das Nações Unidas e do Direito Internacional”, esclareceu.
-0- PANA JA/DD 13novembro2025