África considera multilateralismo alavanca essencial para justiça
Luanda, Angola (PANA) - O multilateralismo representa uma alavanca essencial para África na sua busca pela justiça, equidade e desenvolvimento sustentável, defendeu o Presidente da União Africana (UA), João Lourenço.
“Confrontados com os desafios globais atuais, oferece-nos um quadro propício para reforçar a unidade e a solidariedade continental, apoiando-nos em posições comuns, como as que celebramos hoje, mas também para defender princípios essenciais como a soberania dos Estados, a não ingerência e o direito ao desenvolvimento, que nos são caros e que garantem a inclusão equilibrada de África na governação global”, declarou João Lourenço domingo na sede do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
“Assim, em nome dos Estados membros da União Africana, gostaria de expressar ao Comité dos Dez Chefes de Estado e de Governo da União Africana, toda a nossa gratidão e saudar o trabalho notável, estratégico e indispensável desenvolvido ao serviço do nosso continente”, regozijou-se o também chefe do Estado angolano, na tribuna da 7.ª sétima Cimeira do Comité dos Dez Chefes de Estado e de Governo da UA (C10) sobre a Reforma do CS das Nações Unidas.
Num contexto geopolítico em mutação, em que os equilíbrios de poder evoluem mas têm dificuldades em traduzir-se nas estruturas de governação global, os esforços empreendidos pelo C-10 são “mais vitais do que nunca, pois materializam uma diplomacia pan-africana determinada, coerente e unificada, valorizando a consciência coletiva de um continente que está firmemente disposto a fazer parte da mesa onde se decidem as grandes questões da humanidade", defendeu.
A seu ver, cabe aos líderes africanos continuar a apoiar plenamente as ações do C-10, reforçar os seus meios políticos e diplomáticos e, acima de tudo, permanecer unidos em prol das suas iniciativas, pondo de lado visões egocêntricas para que se possa caminhar sempre juntos e chegar a resultados que satisfaçam os interesses coletivos do continente.
“Estamos reunidos hoje não apenas para a celebração de uma data, mas sim para transformarmos esta ocasião num momento de reflexão, lucidez e mobilização. Vinte anos depois, devemos questionar-nos sobre as razões pelas quais a voz de África continua a ser marginalizada nas grandes decisões mundiais e porque é que as nossas reivindicações legítimas são recebidas com indiferença, ou mesmo com desconsideração”, indignou-se.
Declarou ser “imperativo” ter-se em conta que é na unidade e na constância que a posição africana ganhará força, credibilidade e impacto.
Sublinhou a relevância destes instrumentos diplomáticos, que “devemos continuar a brandir com firmeza em todos os fóruns internacionais, reafirmando sempre as nossas exigências fundamentais.”
África é o berço da Humanidade, a guardiã de culturas milenares, a terra onde nasceram algumas das mais antigas civilizações do mundo. É também o continente da juventude, onde quase metade da nossa população tem menos de 20 anos, trazendo consigo uma energia transformadora, frisou.
É o continente da resiliência, onde, apesar das feridas da História, se constroem todos os dias soluções inovadoras para o desenvolvimento, para a convivência pacífica e para o futuro da Humanidade, defendeu.
Mas esta narrativa, que deveria inspirar esperança, convive com uma realidade amarga quando se depara com cenários que mostram que o continente africano continua sem voz efetiva nas estruturas centrais de decisão do sistema multilateral, lamentou.
Declarou que esta “não é uma reivindicação isolada, mas que é uma exigência de legitimidade global, pois um Conselho de Segurança que exclui um continente inteiro da participação plena não pode aspirar a ser respeitado como o guardião da paz e da segurança internacionais.”
O mundo enfrenta desafios existenciais, desde as mudanças climáticas ao terrorismo transnacional, desde as pandemias às desigualdades globais, alertou.
Acrescentou que, em todos esses desafios, África não é apenas vítima, mas que é também parte da solução.
“Por isso é importante que continuemos a reivindicar o nosso espaço para fazer ouvir a nossa voz”, insistiu.
Concluindo, João Lourenço renovou o seu apoio ao C-10 pelo seu papel de liderança, exortando a todos a prosseguirem juntos, com determinação e solidariedade, esta luta pela equidade, justiça e dignidade de África, a qual tem sido conduzida por este grupo, com grande determinação, sabedoria e com uma visão pan-africana que “merece a nossa mais profunda admiração e simpatia.”
Manifestou o seu apoio incondicional aos esforços de Sua Excelência Julius Maada Bio, Presidente da República da Serra Leoa e Coordenador do Comité dos Dez Chefes de Estado e de Governo da União Africana sobre a Reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Expressou a sua mais profunda convicção de que, sob a sua condução, “conseguiremos fazer valer os nossos pontos de vista sobre o papel de África no seio do Conselho de Segurança das Nações Unidas.”
Os seus elogios são extensivos a Sua Exelência Analena Baerbock, Presidente da 80.ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas; à sua Excelência António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas; assim como à sua Excelência Mahmoud Ali Youssouf, presidente da Comissão da União Africana, entre outras personalidades.
-0- PANA JA/DD 22setembro2025