Agência Panafricana de Notícias

Vaga de refugiados da RDC continua a crescer no leste de Angola

Luanda, Angola (PANA) - As autoridades angolanas anunciaram, no fim de semana, que passou para acima de 20 mil pessoas o número de refugiados da República Democrática do Congo (RDC) na província oriental angolana da Lunda-Norte, fugidos dos conflitos político-tribais em curso nas regiões fronteiriças de Cassai e Cassai Central, desde abril passado.

Segundo o governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto Muangala, os cidadãos congoleses entram no território angolano, a partir dos postos fronteiriços de Itanda e Furi-3, no município do Cambulo, e de Txissanda e Fortuna, no município do Chitato.

Ele precisou que o número de refugiados já atingiu os 20 mil e 93 cidadãos congoleses de vários grupos étnicos, incluindo sobretudo tchokwes, mapendes, lubas, tuquetes, tumatabas e tumai,que diariamente procuram atingir o território angolano em busca de segurança.

Concentrados no campo de Cacanda, os refugiados receberam no fim de semana 90 toneladas de ajuda do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que consistiu essencialmente em bens alimentares diversos, incluindo arroz, feijão e óleo vegetal.

Ernesto Muangala garantiu que, apesar do conflito entre as forças governamentais congolesas e milícias, as Forças Armadas e a Polícia angolanas continuam a garantir a segurança da fronteira para que os conflito não transite para o território nacional, devido às ligações etnolinguísticas e sanguíneas existentes entre os povos dos dois países fronteiriços.

“As forças (da ordem) estão em prontidão. Há um intenso patrulhamento das nossas forças ao longo da fronteira com os meios necessários para garantir a segurança da fronteira”, disse.

Ele revelou que foram endereçados convites aos governadores das províncias congolesas de Cassai e Cassai Central para visitarem Lunda-Norte para uma reunião com as autoridades locais angolanas a fim de apresentar propostas e manter contactos com os refugiados.

Em função do aumento do número de refugiados, que cresce diariamente, foi identificado um espaço no município do Lóvua, a cerca de 100 quilómetros da fronteira, para a criação de um centro de acolhimento com capacidade para 30 mil pessoas, disse.

Com mais de 700 quilómetros de fronteira comum com a RDC, a província angolana da Lunda-Norte acolhe os refugiados congoleses desde abril passado, incluindo mais de quatro mil crianças exaustas, desnutridas e afetadas por diarreias, malária e outras patologias.

Segundo o ACNUR, o atual conflito tribal na RDC provocou, para além dos refugiados no leste de Angola e dos mais de um milhão de deslocados internos, cerca de 400 mortos "muitos deles enterrados nas cerca de 40 valas comuns descobertas na região do Cassai".

O conflito em causa opõe tropas governamentais às milícias armadas tribais "Kamuina Nsapu", do chefe tradicional Jean Pierre Mpandi, morto em agosto de 2016 pelas tropas congolesas.

Estas milícias, que contestam a manutenção no poder do Presidente Joseph Kabila, têm sido acusadas de recrutar centenas de crianças soldados.

Em resultado disso, Angola reforçou a sua presença policial e militar na fronteira com a RDC, temendo a entrada no país de bandos armados, o que levou o ACNUR a pedir que o país não encerrasse as suas fronteiras com a RDC.

"Os refugiados continuam a chegar (...) Na segunda-feira (01.05) e no domingo (30.04), houve quase 400 novas chegadas. De acordo com os relatos dos refugiados, há mais pessoas a caminho de Angola", indicou Markku Aikomus, porta-voz do ACNUR para a África Austral.

Aikomus disse que os refugiados chegam exaustos e muitos deles com sinais de violência, trazendo consigo "muito poucos recursos", enquanto muitas crianças "sofrem de diarreia, febre e malária".

No entanto, acrescentou, as condições nos centros de acolhimento são "muito pobres", estando estes sobrelotados e sem capacidade para receber novos refugiados.

O ACNUR diz que necessita de cinco milhões e 500 mil dólares americanos para assistir os refugiados que todos os dias chegam a Angola, país onde a alocação de recursos para os refugiados poderá ser afetada por outras questões internas, como as próximas eleições gerais.

-0- PANA IZ 07maio2017