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Trabalhadores da cultura pedem apoio para minimizar efeitos da covid-19 em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) - Várias dezenas de artistas e outros trabalhadores ligados ao setor da cultura em Cabo Verde participaram, na tarde de quinta-feira, em varias partes do arquipélago, na denominada Marcha dos Agentes Culturais, constatou a PANA no local.

Os manifestantes alertaram para as consequências do encerramento, desde março último, das atividades e eventos culturais devido à covid-19.

Agentes culturais de diversas ilhas do país saíram às ruas para chamarem a atenção do Governo de Cabo Verde para a cultura, onde artistas e promotores de eventos dizem ter “chegado ao limite”, pelo que apelam a uma intervenção rápida das autoridades no sentido de minimizarem os efeitos da crise que afeta setor.

Além de apoios do Estado para os trabalhadores do setor da cultura sem rendimentos, reclamam também pela possibilidade de reabertura de espaços, nas zonas que o permitam, para potenciar o acesso dos cidadãos nacionais a eventos culturais, enquanto turistas estrangeiros ainda não chegam ao país.

Agentes culturais reclamam também que, enquanto não forem criadas condições para outras instituições, restaurantes e bares trabalharem, o mesmo não aconteceu com os profissionais da cultura.

“Para promotores culturais não foi criado nada. Se formos ver, quase todos os profissionais ligados ao som têm investimentos nesta área, mas todos estão parados. Além do mais, não há nada para regularizar a forma como nós trabalharmos”, considerou um produtor de eventos.

Tenciona assim sensibilizar  autoridades responsáveis e o Governo para criarem condições para a classe artística trabalhar.

Em declarações à imprensa, um artista plástico na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, disse ter aderido a esta iniciativa dos fazedores da cultura porque sentiu falta de iniciativa dos governantes em prol da cultura neste momento de pandemia.

Para o artista plástico, “o Governo está a insistir em apoiar os mesmos artistas, mas existem vários que merecem atenção, em vez se apostar apenas num grupo.”

“Senti que a política estava longe dos fazedores da cultura. Eu sofri isso na pele e acho que deveríamos ter uma política mais virada para a cultura, e para que as pessoas que fazem parte possam sentir-se mais estáveis”, revelou o artista que já trabalhou em várias vertentes da cultura.

“Há outras pessoas que vivem somente da cultura, não têm salário, e este Ministério não as conhece, o que é mais triste. Acho que devemos ponderar fazer mais uma pesquisa no terreno para saber quem faz o quê, quais são as suas capacidades e o que faz para o país”, precisou.

Em declarações prestadas esta semana, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, afirmou que o setor "não está legalmente fechado" e que todas as atividades culturais foram "devidamente regulamentadas" desde outubro, no quadro da pandemia.

Além disso, recorda Abraão Vicente, as empresas do setor da cultura "devidamente registadas" foram "incluídas em todos os incentivos fiscais", mas também nas medidas do regime de 'lay-off' e no acesso ao crédito, como as restantes.

"A grande maioria dos artistas residentes no país que fazem, por exemplo da música, a sua ocupação a 100 por cento já receberam, ou receberão nos próximos dias, um valor financeiro de apoio incluído nas medidas extraordinárias anunciadas pelo senhor primeiro-ministro em dezembro, no quadro da aprovação do Orçamento do Estado. Já foram transferidos cerca de cinco milhões de escudos [45 mil euros] entre o Natal e esta data", escreveu o ministro, numa mensagem que divulgou três dias antes da manifestação.

Entretanto, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva afirmou que o Governo aprovou, quinta-feira, em Conselho de Ministros, uma resolução que cria maior flexibilidade para a realização dos eventos culturais.

O chefe do Governo cabo-verdiano, ao ser abordado sobre a manifestação da classe artística, reconheceu que o setor da produção cultural é um dos mais afetados pela pandemia da covid-19.

mprimento de normas”, referiu.

Esta medida, segundo o governante, vai permitir fazer também uma adaptação de espaços que funcionavam como discotecas ou pubs para puderem funcionar noutro contexto, com atividades que respeitem o distanciamento e normas sanitárias.

“Temos outras medidas em curso, de apoio aos produtores, aos artistas e estamos abertos para reforçar e melhorar ainda mais este programa, dentro deste quadro muito específico da pandemia da covid-19, para além de questões mais estruturais que têm a ver com o desenvolvimento do setor”, apontou.

-0- PANA CS/DD 15jan2021