Agência Panafricana de Notícias

Seca pode duplicar população cabo-verdiana ameçada pela insegurança alimentar

Praia, Cabo Verde (PANA) – A seca que ameaça Cabo Verde este ano pode fazer duplicar os cerca de 20 porcento das famílias cabo-verdianas que vivem sob a pressão da insegurança alimentar, apurou a PANA de fonte oficial na cidade da Praia.

Segundo o ministro cabo-verdiano da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, a taxa de pobreza, que atinge 35 porcento da população do arquipélago, é mais elevada no meio rural, onde o setor da agricultura emprega 22 porcento da população ativa.

Face aos maus resultados agrícolas, disse, estima-se que cerca de 62,3 porcento das famílias rurais estarão em situação de vulnerabilidade, razão por que o Governo aprovou um plano de emergência para mitigar os efeitos da seca no campo.

O governante falava declarações à imprensa, segunda-feira, à margem das comemorações do Dia Mundial da Alimentação, que se assinala a 16 de outubro.

Ele asseverou que o plano em questão, que vai exigir a mobilização de recursos calculados em pouco mais de sete milhões de euros, está orientado para três grandes eixos, designadamente o salvamento do gado, a gestão racional da escassez de água, e a criação de emprego para as famílias afetadas.

Esta medida é considerada fundamental para que as pessoas possam ter acesso aos bens alimentares, pois dados indicam que mesmo a nível subterrâneo há um défice na ordem de 50 porcento das necessidades hídricas.

“Dada a complexidade e urgência destas ações, o plano de emergência está sendo objeto de uma forte articulação com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) e outras agências especializadas, entre o Governo, os municípios e organizações da sociedade civil”, revelou, adiantando que as negociações estão previstas para este mês.

Na sua declaração à imprensa, o governante sublinhou que a pobreza constitui um dos principais fatores da insegurança alimentar e nutricional em Cabo Verde e que não será difícil concluir que no país a vulnerabilidade é mais acentuada no meio rural.

Entretanto, perante este cenário, Gilberto Silva afirmou que as políticas públicas traçadas pelo Governo para a agricultura e o desenvolvimento rural devem reverter a situação.

Neste âmbito, sustentou que o investimento no mundo rural é crucial e que ele deve servir para reduzir as assimetrias, pois, não basta resolver as questões ligadas às infraestruturas, ligadas à conservação de solo e água.

É também necessário adotar outras medidas que possam contribuir para induzir o crescimento pela via das novas tecnologias, bem como aposta forte na resiliência, disse.

Sobre o rácio entre a segurança alimentar e imigração, o governante frisou que, nos últimos anos, o país tem sido alvo de movimentações migratórias tanto de fora como de dentro, com uma taxa de 14 mil imigrantes, dos quais 61 porcento são oriundos dos países vizinhos.

No entanto, sem dispor de dados precisos sobre a imigração interna, avançou que a nível do arquipélago apenas quatro municípios estão a crescer face à movimentação migratória, sendo eles a Cidade da Praia, e as ilhas do Sal, Boa Vista e São Vicente.

Os demais concelhos tendem a perder população, pelo que admitiu a necessidade de se reverter a situação com medidas que apoiam as pessoas a investir e residir nos seus concelhos, visto que dois terços da população cabo-verdiana vive no meio urbano.

“A migração pode ser também encarada como parte do processo de desenvolvimento económico, que contribui para o processo de crescimento económico, melhoria de reforço e segurança alimentar e meios de subsistência nas zonas rurais”, reconheceu.

Todavia, ele advertiu que isso só será possível caso os fatores naturais forem analisados e medidas sejam tomadas para que haja uma migração ordenada e regular, aproveitando o seu potencial para apoiar o desenvolvimento e aumentar a resiliência das comunidades.

Por sua vez, o representante da FAO, em Cabo Verde, Nono Womdim Remi, reafirmou o compromisso da sua agência em apoiar os países a investirem em meios de subsistência e em comunidades rurais menos resilientes.

Isso porque, salientou, só desta forma as populações rurais podem ter a opção de ficarem na sua terra ou abandoná-la, se assim o quiserem.

-0- PANA CS/IZ 17out2017