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Morna de Cabo Verde inscrita oficialmente na lista do Património Imaterial da Humanidade

Praia, Cabo Verde (PANA) - A morna, género musical genuinamente cabo-verdiano, foi inscrita quarta-feira, oficialmente, na lista do Património Imaterial da Humanidade, anunciou a Organização das Nacoes Unidas para Educação e Cultura (UNESCO).

A decisão final sobre a ratificação da classificação, que já tinha recebido o aval da comissão de peritos em novembro, foi adotada na 14.ª reunião anual do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, que decorre desde segunda-feira no Centro de Congressos Agora, em Bogotá, Colômbia.

A declaração da decisão coube a María Claudia López Sorzano, secretária para a Cultura, Lazer e Desporto da cidade de Bogotá e que preside a esta reunião anual do Comité, depois de questionar os delegados sobre eventuais adendas, alterações ou debate sobre a proposta de classificação, que não surgiram.

Reunido pela primeira vez na América Latina, este Comité Intergovernamental é atualmente composto por representantes da Arménia, da Áustria, do Azerbaijão, dos Camarões, da China, do Chipre, da Colômbia, de Cuba, de Djibuti, das Filipinas, da Guatemala, da Jamaica, do Japão, do Cazaquistão, do Kuwait, do Líbano, das Maurícias, da Holanda, da Palestina, da Polónia, do Senegal, do Sri Lanka, do Togo e da Zâmbia, sendo as decisões tomadas por unanimidade destes membros.

Considerada popularmente "música rainha" de Cabo Verde, como recorda "Nôs morna", o dossiê da sua candidatura a Património Imaterial Cultural da UNESCO, com mais de mil páginas e cerca de 300 entrevistas, foi formalmente entregue pelo Governo cabo-verdiano, em 26 de março de 2018.

De acordo com o dossiê da candidatura, a morna terá surgido no século XIX, não sendo consensual a origem do nome e ilha onde nasceu, se Boa Vista ou Brava.

O dossiê de candidatura diz que a morna surge de uma mistura de estilos musicais com fortes raízes africanas, o landum, com as influências da modinha luso-brasileira,

Uma das referências escritas mais antigas sobre a morna consta de um livro do oficial da Marinha russa Konstantin Staninkovitch, que visitou Cabo Verde em 1861.

"A morna é uma prática musical que se estrutura em três dimensões: melodia, poesia e dança, caraterizando-se pelo compasso quaternário, ritmo lento e predominância dos esquemas tonais menores clássicos perfeitos de influência europeia", lê-se ainda no processo.

Interpretada em crioulo cabo-verdiano por uma voz solista, homem ou mulher, apesar de existirem também mornas apenas instrumentais, e versando temas "lírico-passionais, produz-se uma canção melancólica, muito vinculada ao sentimento do amor, ao sofrimento, à saudade, à ternura, à tristeza, à ironia e à boa ou má sorte do destino individual".

Geralmente acompanhada por viola, cavaquinho, violino e piano, o "instrumento de excelência da morna" é o violão, introduzido em Cabo Verde no século XIX.

No entanto, a morna conheceu o seu expoente maior fora de Cabo Verde através da cantora César Évora (1941-2011), que através daquele género musical abriu as portas do Mundo a um país de pouco mais de meio milhão de habitantes.

Em declarações à imprensa, o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, disse que recebeu a notícia “com muita satisfação”, de ver a morna alcandorada à expressão de Património Cultural da Humanidade, considerando ser uma grande vitória para todos os cabo-verdianos e motivo de festa.

Por sua vez, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, disse que Cabo Verde irá cumprir e honrar com a UNESCO e o Mundo, o reconhecimento da morna como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Esta reação do primeiro-ministro aconteceu numa cerimónia, no Palácio do Governo, que contou com a presença de vários artistas e que assistiram à proclamação, em direto, através da Internet.

Ulisses Correia e Silva agradeceu a todas as pessoas que apoiaram a candidatura da morna. “À equipa do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, aos técnicos do Instituto do Património Cultural (IPC), em especial a todos os músicos e artistas de Cabo Verde, no país e na diáspora”.

-0- PANA CS/IZ 12dez2019