Agência Panafricana de Notícias

Denunciada “esterilização” sem consentimento de mulheres cegas em Cabo Verde

Praia, Cabo Verde (PANA) - A Associação Cabo-verdiana de Promoção e Inclusão das Mulheres com Deficiência (APIMUD) está a realizar um inquérito para averiguar algumas denúncias feitas por mulheres cegas de que teriam sido esterilizadas sem aviso prévio nem consentimento seu, apurou a PANA, segunda-feira, na cidade da Praia.

Em declarações à agência cabo-verdiana de notícias (Inforpress), a presidente da APIMUD, Naldi Veiga, explicou que é intenção da associação esclarecer algumas “anomalias e denúncias” ocorridas nas consultas referentes à saúde sexual e reprodutiva, envolvendo mulheres com deficiência visual.

“Neste momento, estamos a sensibilizar as afetadas para testemunharem sobre o assunto que foi denunciado e que levou o Comité para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW) a chamar a atenção do Estado para melhorar a informação e conhecimento sobre a situação das mulheres com deficiência visual no acesso à saúde sexual e reprodutiva”, disse.

Segundo Naldi Veiga, o inquérito, que está sendo feito com o apoio do Centro de Investigação e Formação em Género e Família (CIGEF), tem a pretensão de sensibilizar os médicos no sentido de terem presente a necessidade de se ter um consentimento da paciente, mesmo sendo ela uma pessoa portadora de deficiência, antes de qualquer intervenção médica dessa natureza.

Tudo isso, explicou, porque o desenvolvimento de uma vida familiar saudável também “apresenta problemas sérios às mulheres com deficiência”, em particular, porque são, geralmente, “ensinadas a acreditar que nunca tomarão parte numa relação, constituir uma família ou terem filhos”.

A presidente da APIMUD faz saber que tudo terá acontecido ainda antes da criação da associação, há cerca de um ano, razão pela qual diz estar interessada, agora, por descobrir a verdade para poder “fazer justiça” às mulheres invisuais que sofreram por “falta de sensibilidade de outrem”.

Durante a comemoração do primeiro aniversário da APIMUD, Naldi Veiga afirmou que as suas associadas com deficiência vão lutar para que os seus direitos sejam respeitados e reconhecidos à luz da Constituição da República.

Ela sublinhou que, apesar de algum avanço no que respeita à educação, inclusão social e no setor da saúde, as portadoras de deficiência ainda enfrentam dificuldades, devido à descriminação que enfrentam na sua integração na sociedade.

“A existência de uma cultura discriminatória começa na família e na sociedade que criam obstáculos ao progresso das raparigas e mulheres com deficiência", indicou.

Mas, ressalvou, "nós enquanto associação vamos lutar para uma inclusão no mercado de trabalho, promovendo a igualdade de oportunidades, bem como a conciliação entre a vida social e profissional, e a valorização da saúde como factor de eficiência”.

Criada com o objetivo de sensibilizar a sociedade no geral e em especial as mulheres com deficiência sobre as dificuldades enfrentadas pelas mesmas, a APIMUD, diz Naldi Veiga, está a fazer um trabalho de aproximação e informação, no intuito de apoderar as mulheres deficientes para que possam falar dos seus problemas e denunciar casos de descriminação.

-0- PANA CS/IZ 01fev2016