Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde optimista quanto a mudanças de atitude na COP26

Praia, Cabo Verde (PANA) - O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, manifestou-se, terça-feira, otimista quanto à mudança de atitude notada por  parte dos países desenvolvidos na 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), em Glasgow (Escócia), no sentido de ajudar os países em desenvolvimento, apurou a PANA de fonte segura.

Em declarações a jornalistas, à saída de um encontro inédito entre o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, com chefes de Estado e de Governo de Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, Ulisses Correia e Silva sublinhou que “há esperança porque há uma mudança significativa relativamente à COP anterior.”

“Creio que é a primeira vez que isso acontece. Há um comprometimento muito forte dos Estados Unidos, relativamente à defesa das especificidades desses países que são muito vulneráveis, do ponto de vista económico e ambiental”, regozijou-se.

Entretanto, no discurso pronunciado durante a Cimeira dos Líderes Mundiais, na COP26, ele defendeu cortes ambiciosos nas emissões para evitar o aumento da temperatura média global para além de 1.5ºC, até ao final do século.

Ulisses Correia e Silva  defendeu políticas públicas, investimentos e empoderamento tecnológico para a adaptação às alterações climáticas, uma transição justa e um aumento de resiliência.

O chefe do Governo cabo-verdiano referiu que o seu país, convergente com a posição do Grupo Africano e da AOSIS, defende a concretização do financiamento climático e criação de condições para a sua exequibilidade.

Também realçou o facto de as vulnerabilidades e especificidades dos Pequenos Estados insulares em desenvolvimento (SIDS, sigla em inglês) terem sido tidas em conta nos critérios de financiamento climático.

Numa intervenção terça-feira à tarde, Ulisses Correia e Silva sublinhou o compromisso de Cabo Verde de reduzir para 38 por cento as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, atingindo a neutralidade carbónica em 2050.

Nas energias renováveis, disse querer passar dos atuais 20 por cento para mais de 50 por cento em 2030, estando também empenhado na descarbonização dos transportes e numa agricultura mais sustentável.

O chefe do Executivo cabo-verdiano lembrou que Cabo Verde foi o primeiro país africano a aderir à Aliança para Descarbonização dos Transportes e que, até 2030, deve substituir 25 por cento da frota de veículos térmicos por veículos elétricos e atingir 100 por cento em 2050.

Na agricultura, mencionou o investimento na dessalinização da água salobra e do mar, a reutilização segura de águas residuais tratadas, a massificação da rega gota-a-gota, associadas às energias renováveis.

“Os desafios das mudanças climáticas exigem compromissos coletivos e ação. Exigem muito mais do grupo restrito de países do G20 que podem fazer diferença com eficácia", disse.

Referiu-se ao Papa Bento XVI que disse "it is time to act, and to act together” (chegou o momento de agirmos e agirmos juntos).

Por último, prosseguiu, "é preciso erradicar a pobreza extrema que afeta milhões de pessoas no mundo porque ela não facilita a massificação de práticas e atitudes a favor do clima e do ambiente.”

Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro corrente, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizarem os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris (França), que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e dois graus Celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia da covid-19, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

A ONU estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão, no final do século presente, superiores a 2,7º Celsius.

-0- PANA CS/DD 03nov2021