Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde mobiliza 700 mil euros para prevenir coronavírus

Praia, Cabo Verde (PANA) - O Governo de Cabo Verde reduzirá os gastos no aparelho do Estado, de modo a mobilizar o valor de 76 milhões 852 mil 814 escudos (cerca de 700 mil euros), para financiar um plano de emergência para lidar com o novo coronavírus, face à exposição do arquipélago cabo-verdiano, que ainda não registou nenhum caso desta doença, apurou a PANA de fonte segura.

Esta medida resulta de uma resolução do conselho de ministros, através da qual o Governo cabo-verdiano autorizou a “transferência de verbas entre departamentos governamentais” no valor precitado, para financiar o plano de emergência de luta contra a epidemia de coronavírus.

Com este propósito, vão ser cortadas verbas em vários ministérios, conforme o Orçamento do Estado para 2020, essencialmente nas rubricas de “deslocação e estadas” de membros do executivo.

Ao abrigo deste plano de emergência, serão alocados 13 milhões 124 mil 814 escudos (119 mil euros) para despesas com pessoal médico, 25 milhões 575 mil escudos (233 mil euros) para aquisições de bens e serviços clínicos, e 38 milhões 153 mil escudos (345 mil euros) para a compra de máquinas e de equipamentos clínicos.

A resolução do conselho de ministros destaca “a mobilidade existente em Cabo Verde e para Cabo Verde” de países afetados pelo coronavírus, nomeadamente a China, bem como ligações aéreas e marítimas regulares com os Estados afetados.

Acrescenta que, “embora, até ao momento, Cabo Verde não tenha registado nenhum caso suspeito de coronavírus, o ministério da Saúde e Segurança Social, enquanto entidade máxima promotora da saúde pública, tem tomado medidas preparatórias para responder à epidemia do coronavírus”, como medidas imediatas a serem implementadas em todas as estruturas de saúde”, a criação de áreas de isolamento ou a sensibilização e formação das equipas hospitalares, entre outras.

Também foi feito o “reforço das medidas de vigilância nos pontos de entrada do país, em todos os aeroportos internacionais, com a disponibilização de profissionais para seguirem todos os passageiros provenientes do exterior, com ações preventivas de deteção/triagem”, e respetivo “encaminhamento de eventuais casos suspeitos e de aconselhamento”.

O Governo afirma igualmente que foi feita a “mobilização de materiais, de equipamentos e consumíveis, disponíveis no país, tendo sido procedido à encomenda de um stock para seis meses” junto da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da empresa pública cabo-verdiana Emprofac.

Em concreto, entre outras compras, a verba ora mobilizada pelo Governo servirá para garantir a aquisição de aparelhos ventiladores pulmonares, aparelhos de radiografia portátil, carros de emergência, camas e macas, termómetros, estetoscópios e monitores de sinais vitais, além do recrutamento e da formação de médicos especialistas, enfermeiros e técnicos, ou da compra de roupa, calçados e outro material de uso clínico.

O plano de emergência define a necessidade de, por “segurança sanitária do país”, se assegurar as “respostas eficazes” durante  várias etapas, começando pela “preparação e estado de permanente alerta”, passando pela implementação da “capacidade de deteção precoce do vírus” e prosseguindo com “o confinamento imediato para se evitar o risco de propagação.”

Entretanto, o diretor nacional da Saúde, Artur Correia, já garantiu que “não há nenhum risco acrescido” para Cabo Verde, em virtude do novo coronavírus, após a OMS ter alertado para uma “eventual pandemia”.

Instado a reagir ao alerta, Artur Correia frisou que “não há nenhum risco acrescido” e que, em relação a Cabo Verde, “não há nada de novo”.

No alerta, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, considerou “muito preocupante” o “aumento repentino” de casos na Itália, na Coreia do Sul e no Irão.

Questionado se este alerta da OMS pode ser desvalorizado, o responsável respondeu que as autoridades sanitárias cabo-verdianas sempre ponderaram esta situação.

“A gente não vai atrás da OMS sempre, nós e vocês (jornalistas) temos que gerir as expetativas das populações para não causarmos pânico, para tranquilizarmos as populações, dando informações correas, evitando os fake news…”, prosseguiu.

Sobre a situação na Itália, país onde há uma grande comunidade de cabo-verdianos e voos semanais diretos para Cabo Verde, Artur Correia informou que a questão já foi debatida em reunião.

“Já temos algumas novidades”, disse o diretor -nacional da Saúde, acrescentando que vai falar sobre esta e outras questões esta quarta-feira, 26 de fevereiro corrente.

Na China, estudam cerca de 350 Cabo-verdianos, 15 dos quais estão em quarentena em Wuhan, o epicentro do surto do novo coronavírus.

Alguns dos estudantes já regressaram a Cabo Verde, bem como cidadãos chineses que trabalham e vivem atualmente no arquipélago cabo-verdiano.

As pessoas que regressam da China têm-se sujeitado a uma quarentena voluntária, uma vez que a Constituição cabo-verdiana proíbe o internamento compulsivo de doentes.

Contudo, o bastonário da Ordem dos Médicos de Cabo Verde defende o “isolamento” dos passageiros vindos da China, como forma de travar a entrada do coronavírus no país.

Danielson Veiga reconhece, contudo, o “bom trabalho” que está a ser feito pelas autoridades nacionais sob orientação da OMS, mas mostra-se mais favorável à “quarentena obrigatória”, em vez da “domiciliária e voluntária” que está a ser praticada em Cabo Verde.  

-0- PANA CS/DD 26fev2020