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Cabo Verde introduz ensino da língua nacional no ensino secundário

Praia, Cabo Verde (PANA) - O Governo de Cabo Verde vai introduzir a disciplina de Língua Cabo-verdiana no ensino secundário no próximo ano letivo (2022/2023), anunciou terça-feira o Ministério da Educação.

A introdução da nova disciplina, a partir do 10º ano de escolaridade,  será feita de forma experimental e vai “servir de piloto para o seu alargamento a médio prazo, após amplos consensos científicos”.

A disciplina será introduzida no âmbito dos novos planos curriculares da reforma do ensino secundário, em processo de conceptualização e implementação, lê-se na página Facebook do Ministério da Educação.

A par desta iniciativa ao nível curricular, o Governo manifesta “total disponibilidade em apoiar e fomentar a investigação de base académica, visando consensos técnico-científicos em matérias da linguística, uniformização e padronização das bases gramaticais e ortográficas da língua nacional, comum às suas diversas variantes”.

A nível do alfabeto, a investigação poderá também incidir no alfabeto unificado do crioulo, o ALUPEC, tendo em vista alcançar abrangência e conter resistências ao seu uso na escrita do crioulo.

O ministro da Educação, Amadeu Cruz, reuniu-se, em julho, passado, com representantes do grupo promotor da petição sobre a política linguística, em Cabo Verde, e com o investigador e linguista Manuel Veiga, também antigo ministro da Cultura.

Durante esse encontro foram abordadas questões ligadas à investigação linguística e à metodologia para a integração da disciplina de língua cabo-verdiana no sistema de ensino, no âmbito da reforma do Ensino Secundário.

Entretanto, reconhece-se haver a necessidade de fazer uma articulação e sintonização entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, “em virtude de alinhamento em matérias mais ligadas à cultura e de ordem constitucional.

Há ainda a necessidade da criação de um grupo de trabalho conjunto para a elaboração de um plano de ação de fomento da investigação e do ensino da língua cabo-verdiana.

Também na terça-feira,  o novo Presidente da República, José Maria Neves,  prometeu, no discurso proferido no ato de empossamento, estar na linha da frente do combate para a oficialização da língua nacional cabo-verdiana.

José Maria Neves, que fez o seu discurso de posse, com parte escrita e lida em crioulo e parte escrita e lida em português, afirmou que a língua materna é a componente da cultura cabo-verdiana que mais e melhor sintetiza e traduz a gesta heróica da identidade cultural cabo-verdiana.

“Enquanto Presidente da República vou estar na primeira linha do combate pela oficialização do nosso crioulo, com base em todas as variantes, pois que são as marcas da sua riqueza e força como língua deste povo disperso por várias ilhas”, sustentou.

Uma petição entregue, a 12 de abril último, por personalidades cabo-verdianas ao ex-Presidente Jorge Carlos Fonseca, reivindica a elevação do crioulo ao estatuto de língua oficial nacional como o português.

O documento foi assinado por professores, investigadores, escritores, linguistas, compositores, historiadores e economistas cabo-verdianos. 

Os 188 signatários assumem que a petição tem como objetivo "instar as/os candidatos a deputadas/os e o futuro Governo [após as eleições legislativas de 18 de abril] a, urgentemente, considerarem as medidas legislativas necessárias à mudança da política linguística para uma mais justa e respeitadora de ecologia linguística da nação cabo-verdiana e dos direitos humanos de natureza linguística".

Entre outros pedidos, defendem a "desocultação da língua cabo-verdiana no sistema de ensino", e "viabilizando a construção de uma base robusta para a aprendizagem consciente da língua materna, da língua segunda e das línguas estrangeiras, e possibilitando o desenvolvimento de uma competência plurilíngue e pluricultural, ferramenta indispensável no atual mercado global".

A Constituição da República de Cabo Verde, de 1992, define apenas o português como língua oficial, mas prevê que o Estado deve promover "as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa".

-0- PANA CS/IZ 10nov2021