Agência Panafricana de Notícias

Cabo Verde homenageia combatentes para luta da independência

Praia, Cabo Verde (PANA) – Os 26 primeiros combatentes que há 50 anos abraçaram os ideais da independência de Cabo Verde, conhecidos por Grupo de Moselle (França), onde trabalhavam nas minas de ferro e na indústria siderúrgica, foram homenageados terça-feira na cidade da Ribeira Grande, na ilha cabo-verdiana de Santo Antão, soube a PANA de fonte oficial.

Na ocasião, o Governo de Cabo Verde distinguiu todos os elementos do grupo, alguns a título póstumo, com a insígnia de Combatente da Liberdade da Pátria, tendo em conta que a mobilização política desses primeiros combatentes cabo-verdianos, originários de Santo Antão, São Vicente e Santiago em Moselle, no nordeste de França, em 1964, ficou gravada no itinerário da luta pela independência e liberdade da Nação Cabo-verdiana.

Por isso, “ela simboliza a generosa contribuição das comunidades cabo-verdianas no exterior a esta causa patriótica, depois da mobilização em Bissau em finais de 50 e Dakar, em princípios de 60”, sublinha a Fundação Amilcar Cabral (FAC), que organizou a homenagem, em parceria com o Governo e a Associação dos Municípios de Santo Antão.

A FAC recorda que esses 26 mobilizados, que, na altura, tinham possibilidades de iniciar uma caminhada para uma situação económica estável, comparativamente ao que levavam nas ilhas, decidiram juntar-se a Amílcar Cabral e seus companheiros.

A mobilização do grupo para as fileiras do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi “um passo decisivo” para a constituição do coletivo que iria receber formação e treino militar em Cuba, com vista à abertura de uma hipotética frente de luta armada em Cabo Verde, o que não veio a acontecer.

O juramento à bandeira do primeiro contingente formado em Cuba aconteceu na presença de Amílcar Cabral, a 15 de janeiro de 1967, data considerada como sendo da criação das Forças Armadas Cabo-verdianas, que completou este ano o seu 48º aniversário.

As atividades para relembrar o “Grupo de Moselle” aconteceram no âmbito das celebrações do Dia dos Heróis Nacionais, 20 de janeiro, para assinalar o 42.º aniversário do assassinato de Amílcar Cabral, o pai das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

O momento de convívio e confraternização contou ainda com testemunhos dos protagonistas da mobilização dos primeiros cabo-verdianos em França para a causa da independência de Cabo Verde, que viria a acontecer 11 anos depois, a 5 de julho de 1975.

Na ocasião, foi realizada ainda uma mesa-redonda, em que participou Pedro Pires, antigo primeiro-ministro, ex-Presidente cabo-verdiano e atual presidente da Fundação Amílcar Cabral, e durante a qual foi apresentado o livro “Cabo Verde: Reflexões e Mensagens” (Textos de Amílcar Cabral), pelo embaixador Luís Fonseca.

Na cidade da Praia, o Dia dos Heróis Nacionais foi marcado pela tradicional deposição de uma coroa de flores no Memorial Amílcar Cabral pelo Chefe do Estado, Jorge Carlos Fonseca, que presidiu, igualmente à conferência em homenagem aos heróis nacionais subordinado ao tema “O ideário de libertação – factos, processos e utopias”.

Com este ato terminou a Semana da República, que decorreu de 13 a 20 de Janeiro, sob o patrocínio do Presidente da República.

Amílcar Cabral, líder do PAIGC, foi abatido em Conakry (Guiné Conakry) a 20 de janeiro de 1973 em circunstâncias até hoje não totalmente esclarecidas, mas alguns investigadores defendem que o seu assassinato foi o resultado de contradições não resolvidas do movimento de libertação que liderou durante mais de 25 anos a luta de libertação da
Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

Por ocasião do III Simpósio Amílcar Cabral, na cidade da Praia, em janeiro de 2013, sob o lema “Pensar Cabral, Sempre!”, o ex-Presidente de Cabo Verde, Pedro Pires, um dos principais dirigentes do partido que se encontrava empenhado na luta armada contra o colonialismo, defendeu que "não foram contradições internas no seio do PAIGC que estiveram na génese da morte de Cabral, como alguns pretendem fazer crer".

Aliás, lembrou, “a Guiné era o palco da luta mais avançada nas ex-colónias portuguesas, era preciso travá-la, e apareceu como método para isso, para travar esse avanço na luta, cortar a cabeça ao seu pilar mais forte", que era Amílcar Cabral.

-0- PANA CS/TON 21jan2015